Rússia justifica desconfiança ocidental e aumenta efetivo militar em vez de retirar tropas

Moscou prometeu retirar soldados e armas da região de fronteira com a Ucrânia. Funcionário de Washington diz que ocorreu o oposto

Na última terça-feira (15), a Rússia afirmou que iniciaria uma retirada parcial de tropas posicionadas perto da fronteira com a Ucrânia. O Ocidente não recebeu com muito otimismo a promessa, e a desconfiança parece se justificar. Nesta quinta-feira (17), Moscou disse que a retirada levaria algum tempo, após a conclusão de supostos treinamentos militares. As informações são da rede Voice of America (VOA).

De acordo com um alto funcionário de Washington, a situação é completamente diferente daquela prometida por Moscou. Segundo ele, o que a Rússia fez nos últimos dias não foi reduzir as tropas em zona de ataque, e sim aumentar em cerca de sete mil homens o contingente.

“Os russos também disseram nos últimos dias que estão preparados para se envolver na diplomacia, como nós e nossos aliados oferecemos repetidamente”, disse o funcionário. “Mas cada indicação que temos agora é de que eles pretendem apenas se oferecer publicamente para conversar e fazer reivindicações sobre a desescalada enquanto se mobilizam secretamente para a guerra”.

Enquanto nega a intenção de atacar, Moscou faz exigências para reduzir a tensão. A principal demanda é a de que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não aceite como mebros a Ucrânia e outras ex-repúblicas soviéticas, sob o argumento de que a Rússia se sentiria acuada e ameaçada. Também foi exigido que o Ocidente pare de enviar armamento a Kiev e retire suas tropas da Europa Oriental.

De acordo com o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, os EUA e seus aliados rejeitaram categoricamente essas demandas, mas disseram aceitar dialogar sobre limites para implantações de mísseis na Europa, restrições a exercícios militares e outras medidas que permitam estabelecer uma relação de confiança entre Moscou e o Ocidente.

Rússia justifica desconfiança ocidental e diz que a prometida retirada de tropas levará tempo
Exército russo em treinamento: tropas estão na fronteira com a Ucrânia (Foto: divulgação/eng.mil.ru)

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e segue até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com o suporte de Moscou. Em 2021, a situação ficou especialmente delicada, com a ameaça de uma invasão integral da Rússia à Ucrânia.

Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilha com seus aliados informações de inteligência. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

A inteligência da Ucrânia calcula a presença de mais de 120 mil tropas nas regiões de fronteira, enquanto especialistas calculam que sejam necessárias 175 mil para uma invasão. Já a inteligência dos EUA afirma que um eventual ataque ao país vizinho por parte da Rússia ocorreria pela Crimeia e por Belarus.

Um conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, se isso ocorrer, as tropas russas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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