Acordo comercial entre EUA e Taiwan irrita China, que pede anulação

Beijing argumenta que a ação de Washington viola o princípio de "Uma Só China"

China manifestou forte oposição a qualquer forma de interação oficial entre os EUATaiwan e pediu que Washington revogue um acordo comercial bilateral com a ilha semiautônoma celebrado há poucos dias. As informações são do jornal Global Times.

O Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou que essa ação da Casa Branca viola o princípio de “Uma Só China” e contradiz os acordos China-EUA, nos quais há o compromisso norte-americano de manter “apenas relações não oficiais com Taiwan”.

No começo desta semana, o presidente dos EUA, Joe Biden, assinou o primeiro acordo comercial bilateral entre Washington e Taiwan. No entanto, Beijing alega que o pacto envia uma mensagem equivocada às “forças separatistas taiwanesas que buscam a independência”.

Bandeira da China em frente a embaixada chinesa nos EUA, em Nova York, em junho de 2011 (Foto: CreativeCommons/Tomas Roggero)

O ministério chinês reforçou a determinação do governo em proteger sua soberania e integridade territorial. Por meio de um porta-voz, o órgão governamental pediu aos EUA que mudem de direção, revoguem a chamada “Lei”, parem de avançar com as negociações da “iniciativa” e “abandonem o caminho que estão seguindo”.

Iniciativa Estados Unidos-Taiwan

Em uma declaração breve emitida pela Casa Branca na segunda-feira, foi anunciado que o presidente Biden assinou a Iniciativa Estados Unidos-Taiwan sobre a Lei de Implementação do Acordo do Primeiro Comércio do Século XXI.

O acordo foi aprovado por ambas as partes em 1º de junho, depois de negociações entre o Instituto Americano em Taiwan e o Escritório de Representação Econômica e Cultural de Taipé nos EUA.

A assinatura da lei por Biden ocorreu poucos dias após a aprovação da legislação pelo Senado dos EUA.

Taiwan é considerada pela China como uma “província separatista”, enquanto Taipé defende sua independência.

Apesar da afirmação dos EUA de que respeitam sua política de “Uma Só China”, houve um aumento no envolvimento com Taipei, com legisladores e ex-funcionários realizando visitas regulares a Taiwan.

De acordo com o órgão regulador de mercado Statista, o comércio total entre os EUA e Taiwan em 2022 alcançou US$ 136 bilhões, com exportações de defesa dos EUA para Taiwan no valor de cerca de US$ 19 bilhões ainda pendentes.

Lenha na fogueira

A ação dos EUA aumenta ainda mais a complexidade de uma relação já muito tensa entre Beijing e Washington, mesmo enquanto ambas as nações tentam retomar as comunicações oficiais.

Também na quinta-feira, autoridades chinesas, incluindo o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Comércio, criticaram fortemente a decisão do governo dos EUA de proibir novos investimentos norte-americanos em setores de tecnologia cruciais na China.

As autoridades chinesas prometeram tomar medidas necessárias para proteger os interesses do país.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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