Agente da repressão em Xinjiang comandará escritório chinês em Hong Kong

Major General Peng Jingtang foi o escolhido para liderar o escritório do exército chinês no território autogovernado

O presidente da China, Xi Jinping, destacou um agente de polícia da região de Xinjiang para comandar o escritório do exército chinês em Hong Kong. A decisão fortalece as suspeitas de que Beijing esteja ampliando sua influência no território autogovernado, a fim de aumentar a repressão e silenciar os dissidentes que clamam por democracia. As informações são do jornal Taipei Times.

O escolhido é o Major General Peng Jingtang, de acordo com um comunicado expedido pelo Ministério da Defesa Nacional. Ele comandou anteriormente a polícia de Xinjiang, onde Beijing é acusada de impor um regime repressivo contra a minoria étnica dos uigures, com denúncias de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos.

As ações do governo da China em Xinjiang teriam como objetivo promover uma limpeza étnica e religiosa na região. Estimativas apontam que um em cada 20 uigures, ou cidadãos de outras minorias étnicas, já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. Beijing não nega a existência de campos de detenção na região, mas os chama de “campos de reeducação” e afirma que têm como objetivo controlar o extremismo religioso e, assim, combater o terrorismo islâmico.

Major General Peng Jingtang (Foto: eng.chinamil.com.cn)

Peng é mais um agente estatal especializado em ações repressivas selecionado por Beijing para cargos cruciais em Hong Kong. No início de 2020, Luo Huining, que liderou a campanha anticorrupção de Xi Jinping, assumiu o Gabinete de Ligação, órgão crucial de Beijing em Hong Kong. Já Xia Baolong, que comandou a repressão às igrejas cristãs na província de Zhejiang, foi nomeado para o Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau.

De acordo com o Ministério da Defesa, Peng trabalhará para “salvaguardar resolutamente a soberania nacional, a segurança e os interesses de desenvolvimento, e salvaguardar firmemente a estabilidade de Hong Kong”.

Por que isso importa?

Após a transferência de Hong Kong do domínio britânico para o chinês, em 1997, o território passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa por independência e democracia em 2019.

A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela “lei de segurança nacional“, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.

No final de julho de 2021, um ano após a implementação da lei, foi anunciado o primeiro veredito de uma ação judicial baseada na nova normativa. Tong Ying-kit, um garçom de 24 anos, foi condenado a nove anos de prisão sob as acusações de praticar terrorismo e incitar a secessão.

O incidente que levou à condenação ocorreu em 1º de julho de 2020, o primeiro dia em que a lei vigorou. Tong dirigia uma motocicleta com uma bandeira preta na qual se lia “Liberte Hong Kong. Revolução dos Nossos Tempos”, slogan usado pelos ativistas antigoverno nas manifestações de 2019.

Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes nos últimos meses. O trabalho da imprensa tornou-se particularmente difícil, com seguidos casos de jornalistas presos com base na lei. As autoridades de Hong Kong rejeitam essas afirmações, e o governo local nega ter como alvo a mídia, insistindo que a lei é necessária para preservar a segurança nacional.

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