Bloqueio naval é eficiente e custa menos à China para subjugar Taiwan, diz analista

Almirante da marinha dos EUA diz que uma ação do gênero reduziria a chance de o Ocidente enviar ajuda militar à ilha

A China não precisa necessariamente de uma invasão militar para subjugar Taiwan e colocá-la sob o governo do Partido Comunista Chinês (PCC). Um bloqueio naval surtiria efeito semelhante, sem derramamento de sangue e possivelmente sem uma reação extrema do Ocidente. É o que afirma o almirante Karl Thomas, veterano oficial da marinha norte-americana ouvido pelo The Wall Street Journal.

“Eles têm uma marinha muito grande. Se quiserem intimidar e colocar navios em Taiwan, podem fazer isso”, disse Thomas, atualmente comandante da sétima frota da marinha dos EUA.

Os exercícios militares chineses no entorno de Taiwan, que sucederam a visita à ilha de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, serviram justamente para evidenciar a capacidade de Beijing impor um bloqueio naval.

Segundo Thomas, uma ação não letal colocaria as nações ocidentais, encabeçadas pelos EUA, em uma encruzilhada quanto à melhor forma de punir a China. Embora Washington mantenha oficialmente a posição de ambiguidade estratégica, sem deixar claro se enviaria tropas à ilha em caso de invasão, o presidente Joe Biden disse à rede CBS, no domingo (18), que “sim”, suas forças armadas defenderiam Taiwan. No caso do bloqueio, porém, um contragolpe militar torna-se improvável.

“Claramente, se eles (a China) fazem algo que não é cinético, e, você sabe, um bloqueio é menos cinético”, disse o almirante Karl Thomas, referindo-se a um ataque envolvendo força letal, “então isso permite que a comunidade internacional avalie e trabalhe junta em como resolver esse desafio”.

Marinha chinesa realiza treinamento nas águas de Qingdao (Foto: eng.chinamil.com.cn/)

A autoridade norte-americana avalia que todas as ferramentas necessárias a Beijing para realizar o bloqueio estão disponíveis. Isso se deve muito à forte presença militar do país no Mar da China Meridional, alvo de disputas geopolíticas entre diversas nações. Os chineses, porém, têm conseguido se sobrepor aos vizinhos com base na força, inclusive construindo e militarizando ilhas artificiais na região.

“Eles militarizaram completamente essas ilhas. Eles já têm todos os bunkers de que precisam, já têm toda a capacidade de armazenamento de combustível de que precisam, a capacidade de abrigar tropas, têm os mísseis, os radares, os sensores”, disse ele.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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