O governo de Taiwan denunciou na quarta-feira (26) que a China realizou um exercício militar de fogo real sem aviso prévio a 40 milhas náuticas (75 quilômetros) da costa de Kaohsiung, uma das principais cidades portuárias da ilha. Segundo o Ministério da Defesa taiwanês, a manobra representa uma ameaça à segurança regional e um risco para o transporte aéreo e marítimo internacional. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
Em nota, Taiwan afirmou que Beijing “violou abertamente as normas internacionais ao designar unilateralmente” a zona de treinamento e condenou a ação. O governo local respondeu à movimentação militar despachando forças navais, aéreas e terrestres para monitoramento e adoção de “medidas apropriadas”. A China não notificou previamente sobre a manobra, como é prática padrão para evitar acidentes com embarcações e aeronaves.

“Esse movimento não apenas representa um alto risco à segurança da navegação de voos e navios internacionais, mas também é uma ameaça aberta à segurança e à estabilidade regional”, disse o Ministério da Defesa de Taiwan.
Ainda de acordo com a pasta, entre terça (25) e quarta-feira, 32 aeronaves e embarcações militares chinesas foram detectadas nas proximidades de Taiwan. Destas, 22 atravessaram a linha média do Estreito de Taiwan, considerada uma fronteira de fato entre a ilha e o continente chinês.
O episódio ocorre em meio a outras movimentações militares da China na região. Na segunda-feira (24), Beijing deu início a um treinamento de quatro dias com munição real no Golfo de Tonkin, compartilhado com o Vietnã.
O exercício ocorreu dias após Hanói divulgar um novo mapa demarcando seu território na área. Na semana passada, manobras chinesas também afetaram voos comerciais entre Austrália e Nova Zelândia, gerando protestos pela falta de aviso prévio.
Enquanto o governo chinês não comentou sobre a nova zona de treinamento perto de Taiwan, no domingo (23), o porta-voz do Ministério da Defesa, Wu Qian, rejeitou as críticas australianas sobre os exercícios no Mar da Tasmânia, classificando-as como “exageradas” e “inconsistentes com os fatos”.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.