A China anunciou na última terça-feira (26) sanções contra uma empresa de pesquisa dos EUA e dois analistas que relataram abusos dos direitos humanos cometidos por Beijing contra os uigures, uma comunidade predominantemente muçulmana que habita o noroeste chinês. As informações são da agência Associated Press (AP).
Os alvos da decisão foram a Kharon, empresa de pesquisa e análise de dados com sede em Los Angeles, seu diretor de investigações, Edmund Xu, e Nicole Morgret, uma analista de direitos humanos afiliada ao Center for Advanced Defense Studies, uma organização de pesquisa sem fins lucrativos de Washington.
Por meio de uma declaração em seu site, o Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou que as penalidades são uma retaliação a um relatório anual encomendado pelo governo norte-americano sobre direitos humanos em Xinjiang.
Com a decisão, a empresa foi banida do território chinês e seus dois pesquisadores estão proibidos de viajar para a China. Quaisquer propriedades ou ativos que possuam no país serão congelados, detalhou no comunicado o porta-voz da pasta, Mao Ning.
Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. São antigas as denúncias de que Beijing usa tortura, esterilização forçada, trabalho coercitivo e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.
Tais denúncias foram reforçadas por Morgret em artigo publicado em junho de 2022, no qual acusa o governo chinês de industrializar a província às custas do trabalho dos uigures, que são vítimas também de um processo de assimilação cultural por Beijing.
Como parte desse processo, milhares de uigures foram enviados ou seguem internados em centros de reeducação. A China alega se tratar de uma política de desradicalização para combater o extremismo religioso e o separatismo naquela parte do país.
Acesso restrito
A fim de esconder os abusos, o governo chinês estabeleceu um controle rigoroso de entradas e saídas de Xinjiang. Estudo divulgado neste mês pelo Projeto Uigur de Direitos Humanos, um grupo civil com sede em Washington, classificou a província chinesa como “uma das regiões mais fortemente policiadas do mundo.”
Segundo o documento, as forças de segurança chinesas elas são os “principais atores na execução do genocídio (contra os uigures) decorrente das políticas do Partido Comunista Chinês (PCC)”.
A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e costuma classificá-las como “a mentira do século”, sempre insistindo na teoria de reeducação para combater o terrorismo e o separatismo.
Ao comentar especificamente o relatório da Kharon, o porta-voz da diplomacia chinesa afirmou que os EUA, ao publicarem o documento, “espalham histórias falsas sobre Xinjiang”. Ainda contestou as sanções norte-americanas contra autoridades e empresas chinesas, que Beijing classifica como ilegais, e prometeu que seu governo responderá de maneira equivalente.
Genocídio
Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.
O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.