O Uyghur Human Rights Project (Projeto Uigur de Direitos Humanos, da sigla em inglês UHRP), com sede nos EUA, denunciou a intensa vigilância na província de Xinjiang, no oeste da China, classificando-a como “uma das regiões mais fortemente policiadas do mundo”.
Em um relatório divulgado na quarta-feira (13), a organização destacou a ação de diversas forças policiais acusadas de cometer “crimes atrozes” contra os 11 milhões de uigures, uma minoria étnica muçulmana de raízes turcas, segundo informações da rede Radio Free Asia.
O diretor-executivo do UHRP, Omer Kanat, enfatizou a importância do relatório para a comunidade de direitos humanos “buscar justiça e reparação”, identificando os responsáveis com precisão.
O relatório intitulado “Policing East Turkistan: Mapping Police and Security Forces in the Uyghur Region” (“Policiamento no Turquistão Oriental: Mapeamento das Forças Policiais e de Segurança na Região Uigur”, em tradução libre) utiliza o termo geográfico preferido pelos uigures para designar sua terra natal.
O documento examina a estrutura das forças policiais, destacando que elas são os “principais atores na execução do genocídio [dos uigures] decorrente das políticas do Partido Comunista Chinês (PCC)”, entre elas detenções em massa, reeducação forçada, controle de natalidade e assimilação cultural.
O governo dos EUA e determinados parlamentos ocidentais concordam com a avaliação e igualmente classificaram as ações do governo chinês em relação aos uigures como genocídio ou crimes contra a humanidade.
O relatório destaca várias agências com funções e estruturas de comando diferentes, todas sob controle do PCC. Entre elas a Polícia Armada Popular (PAP), ligada ao mesmo braço do partido que controla os militares e que possui mais “destacamentos móveis” em Xinjiang do que em qualquer outra região da China, embora a região tenha uma fração da população de Beijing.
Além disso, o estudo aponta para polícias regionais que demonstram eficácia ao lidar com ameaças percebidas à autoridade do PCC, mas, em contrapartida, apresentam limitações na abordagem de crimes comuns.
Em meio à presença de diversas forças policiais operando na região, Ben Carrdus, o pesquisador responsável pelo estudo, destaca a dificuldade das pessoas em entender as distinções entre os vários tipos de polícia em Xinjiang.
Ele ressalta que relatórios sobre a região uigur frequentemente geram confusão sobre o tipo de polícia em ação, dificultando a distinção entre Exército e forças policiais.
Por que isso importa?
A província de Xinjiang faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes linguísticas e étnicas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.
Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.
Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.
O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.
A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século”.