Empresas chinesas do setor de telecomunicações estão sob investigação na Índia

Fisco indiano está de olho nas gigantes ZTE e Vivo por supostas irregularidades financeiras

O Departamento de Imposto de Renda da Índia está no encalço das gigantes chinesas do setor de telecomunicações ZTE e Vivo (nenhuma relação com a operadora de telefonia brasileira), por supostas irregularidades que envolvem finanças e contas das empresas no país. As informações foram reveladas pela rede Bloomberg e reproduzidas pelo portal India.com.

Documentos organizados por auditores e enviados ao Ministério de Assuntos Corporativos indiano apontam para supostas violações pelas empresas, incluindo fraude financeira. O órgão governamental irá examinar os relatórios.

Estande da ZTE na Mobile World Congress, maior feira de tecnologia móvel do mundo (Foto: WikiCommons)

Os registros detalham que uma investigação contra a fabricante de smartphones Vivo foi solicitada em abril deste ano, em busca de possíveis irregularidades na empresa e nos relatórios financeiros. A partir desses desdobramentos, as autoridades indianas decidiram ampliar as investigações a outros negócios chineses em operação no país.

Desde a piora na relação entre os países, particularmente por conta uma disputa territorial em abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em sangrentos combates em vários pontos da área montanhosa que separa as nações, o governo indiano proibiu mais de 321 aplicativos chineses por questões de privacidade, segurança e espionagem.

Os apps, que são clones de outros previamente removidos, têm brechas que permitem a coleta de dados confidenciais de usuários, secretamente transmitidos para a China.

cruzada do governo indiano contra empresas chinesas não termina aí. Em dezembro de 2021, as fabricantes chinesas de telefones Xiaomi e Oppo também haviam sido alvo de buscas em 11 Estados Indianos, igualmente acusadas de evasão fiscal.

No caso da Xiaomi, no começo de maio, o governo indiano confiscou cerca de US$ 726 milhões em ativos da empresa após uma investigação descobrir que a fabricante de produtos de tecnologia teria transferido dinheiro para fora do país ilegalmente, violando leis cambiais.

No ano passado, a Huawei ficou fora da lista de potenciais fornecedores de tecnologia para a rede 5G do país. A ZTE também já havia sido excluída. A perda no caso é considerável, vez que o mercado indiano é o segundo maior do mundo em número de usuários de telefonia móvel.

CEO sob vigilância

Li Xiongwei, CEO da Huawei India, está impedido de sair do país após ter uma LOC (“circular de vigilância”, medida local que monitora a entrada e saída de indivíduos na mira de autoridades policiais) emitida contra si pelo governo local. As informações são do site especializado em telecomunicações Light Reading.

Li apelou ao Supremo Tribunal de Delhi para contestar a LOC, que ele alega ter causado um “grande golpe” em sua reputação “assim como na reputação da Huawei India”.

No dia 1º de maio, ele foi barrado antes de entrar em um voo no Aeroporto Internacional Indira Gandhi, em Nova Délhi. Ele estava a caminho de Bangkok, na Tailândia, onde participaria de uma reunião oficial de negócios. De acordo com a petição, seu cartão de embarque foi cancelado e as autoridades se recusaram a dar justificativas.

Em fevereiro deste ano, autoridades fiscais da Índia conduziram uma série de buscas em instalações da empresa chinesa de telecomunicações Huawei. O ato foi parte de uma ação que acusa a companhia de evasão fiscal no país.

Nas buscas, os agentes do fisco indiano procuravam documentos, registros de contabilidade e outros dados, tanto de negócios da empresa na Índia quanto no exterior, que possam vir a contribuir para as investigações.

Por que isso importa?

Índia e China travam uma disputa territorial desde abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países, com acusações mútuas desrespeito à Linha de Controle Real (LAC, na sigla em inglês), a fronteira de fato entre as nações.

Os vizinhos compartilham uma fronteira não delimitada oficialmente de 3,5 mil quilômetros através do Himalaia e mantêm um acordo de paz instável desde o fim da guerra sino-indiana, em novembro de 1962.

Em 15 de junho de 2020, a paz na fronteira foi quebrada após novos confrontos entre soldados indianos e chineses no vale de Galwan, na região de Ladakh, na Índia. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

Desde então, milhares de soldados estão posicionados dos dois lados da fronteira, e obras com fins militares tornaram-se habituais na região. As nações reivindicam vastas áreas do território alheio no Himalaia, problema que vem desde a demarcação de áreas pelos governantes coloniais britânicos.

Beijing e Nova Délhi mantiveram 14 rodadas de negociações desde os confrontos de junho de 2020. As conversas levaram à retirada de tropas em vários pontos ao longo da ALC, mas não de todos. E não foi possível chegar a nenhum acordo sobre a fronteira. Para especialistas, qualquer deslize de um dos lados pode levar a uma guerra entre as nações.

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