Junta nega atendimento a líder democrática de Mianmar, cujo estado de saúde é delicado

O filho mais novo de Aung San Suu Kyi disse que dores intensas na gengiva impedem a mãe dele de se alimentar adequadamente

A saúde da líder democrática Aung San Suu Kyi gera crescente preocupação devido à recusa dos militares no poder em Mianmar em conceder cuidados médicos urgentes, mesmo ante a um pedido das autoridades prisionais. Kim Aris, filho mais novo da política, presa desde o golpe de Estado em 2021, pediu à junta militar que reconsidere a decisão, a qual define como “insensível e cruel”. As informações são do jornal The Independent.

Suu Kyi, de 78 anos, enfrenta sérios problemas de saúde, incluindo problemas gengivais que lhe causam intensa dor e a impedem de se alimentar adequadamente. Embora tenha sido prescritos medicamentos por seu médico, um pedido de cuidados privados foi negado, apesar de ter sido solicitado pela direção da prisão onde ela cumpre pena.

Kim expressou profunda preocupação com a situação de sua mãe. Ele acredita que ela está sofrendo crises de vômitos e tonturas graves, e a incapacidade de comer representa “um sério risco para sua vida”.

A política birmanesa Aung San Suu Kyi (Foto: WikiCommons)

Ele deseja que sua mãe seja autorizada a retornar à sua residência em Yangon, a antiga capital e maior cidade de Mianmar, para receber tratamento. E apela às autoridades birmanesas para que mostrem “compaixão e ajam humanamente”.

No mês passado, surgiram rumores de que Aung San Suu Kyi teria sido colocada em prisão domiciliar, depois que a junta militar concedeu perdões em vários casos contra ela como parte de uma anistia mais ampla. No entanto, as autoridades militares não confirmaram oficialmente tal medida, e ela permanece sob custódia.

Suu Kyi foi condenada a mais seis anos de prisão em agosto do ano passado, acusada de corrupção. Ela agora enfrenta um total de 17 anos no cárcere, vez que a pena mais recente foi somada à de 11 anos imposta em julgamentos de casos anteriores.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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