EUA sancionam autoridades chinesas ligadas à assimilação cultural forçada no Tibete

Crianças com apenas quatro anos são induzidas a residir em internatos, onde são obrigadas a falar exclusivamente mandarim

Washington anunciou na segunda-feira (21) que irá aplicar sanções de visto a funcionários do governo chinês responsáveis por imposição forçada de assimilação cultural a mais de um milhão de crianças e jovens tibetanos em internatos estatais. Essas políticas de Beijing resultaram no afastamento de centenas de milhares de jovens de suas famílias. As informações são da rede Radio Free Asia.

A medida foi anunciada pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Em comunicado, ele ressaltou que tais práticas coercitivas têm como objetivo “eliminar as distintas tradições linguísticas, culturais e religiosas do Tibete entre as gerações mais jovens”.

Além disso, o comunicado insta as autoridades chinesas a encerrarem a coerção das crianças tibetanas nos internatos governamentais e a cessarem as políticas repressivas de assimilação tanto na província autônoma quanto em outras regiões da China.

Estudantes tibetanos em uma escola profissionalizante local (Foto: WikiCommons)

As escolas residenciais ou internatos, onde as crianças estudam e vivem, oferecem um conteúdo centrado na cultura Han, da maioria chinesa, obrigando a minoria tibetana a aprender o currículo em língua chinesa, ou putonghua, sem nenhum acesso ao aprendizado tradicional e relevante culturalmente.

Não foram fornecidos detalhes sobre quais funcionários serão impactados pelas sanções ou quando isso ocorrerá. De acordo com um funcionário do Departamento de Estado que preferiu não se identificar, os registros de vistos estão protegidos pela lei dos EUA, o que significa que as pessoas afetadas não serão reveladas.

Entretanto, foi mencionado que as medidas afetarão “atuais ou ex” funcionários chineses considerados responsáveis ou cúmplices na repressão aos tibetanos.

Em dezembro de 2022, os Estados Unidos anunciaram sanções direcionadas a dois altos funcionários chineses, Wu Yingjie e Zhang Hongbo. As medidas foram aplicadas devido ao que Washington descreveu como “violações abrangentes dos direitos humanos no Tibete”.

Educação compulsória

Um relatório de 2021 do Tibet Action Institute, sediado nos EUA, revelou que centenas de milhares de crianças tibetanas, com idades entre 4 e 18 anos, estavam sendo separadas de suas famílias e obrigadas a residir em internatos estatais, frequentemente resultando na perda de sua habilidade de falar tibetano.

O relatório observa que os educadores usam exclusivamente o mandarim como língua de instrução, conduzindo todo o currículo, incluindo atividades como canções de ninar e histórias para dormir, em mandarim. As consequências para a identidade tibetana ao longo de gerações são profundas e problemáticas.

As autoridades justificam essa educação compulsória como uma maneira de levar educação aos tibetanos, espalhados por vastas áreas geográficas.

Liu Pengyu, porta-voz da Embaixada da China em Washington, rejeitou as acusações na terça-feira, alegando que a China “se opõe firmemente a difamações contra os internatos no Tibete” e considera essa prática comum em escala internacional.

Tencho Gyatso, presidente da Campanha Internacional para o Tibete, acolheu positivamente as notícias sobre as sanções planejadas.

“A separação implacável da China das crianças tibetanas de suas famílias é inaceitável. Isso revela a magnitude do plano de Beijing para erradicar o estilo de vida tibetano e moldar os tibetanos em seguidores leais do Partido Comunista Chinês“, disse.

Tags: