Ex-chefe do Hamas diz que ataque a Israel inspira China e Rússia em suas próprias guerras

Segundo Khaled Mashal, Beijing adotará estratégia semelhante contra Taiwan, enquanto Moscou estuda a ação pensando na Ucrânia

O ataque realizado pelo Hamas contra Israel no dia 7 de outubro, que desencadeou uma guerra entre o país e o grupo radical, é visto com admiração por Rússia e China, que inclusive pretendem adicionar a estratégia à cartilha de suas suas Forças Armadas. Ao menos é o que afirma Khaled Mashal, que até 2017 exercia o comando da organização extremista palestina.

Mashal concedeu na última quinta-feira (26) uma entrevista ao canal egípcio Sada El-Balad. O conteúdo, originalmente falado em árabe, foi legendado em inglês pela Memri TV, parte de uma organização de monitoramento e análise de mídia ligada a governo israelense.

“A China viu (nosso ataque) como um exemplo deslumbrante”, afirma Mashal na entrevista, conforme as legendas da Memri TV. “Os chineses estão considerando levar adiante um plano em Taiwan fazendo o mesmo que as Brigadas Al-Qassam fizeram no dia 7 de outubro”, completou, citando o braço militar do Hamas responsável pelo ataque a Israel.

Khaled Mashal, ex-chefe do Hamas (Foto: citaty-slavnych.sk/Creative Commons)

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nos últimos anos, em resposta à aproximação entre os EUA e a ilha, Beijing endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

Diferente da China, a Rússia já é parte de uma guerra em andamento, contra a Ucrânia. E Mashal diz que Moscou igualmente pretende adotar a estratégia do Hamas. “Para sua informação, a Rússia se beneficiou do nosso (ataque), porque nós distraímos os EUA deles e da Ucrânia”, afirmou o ex-chefe do Hamas. “Os russos nos disseram que o que houve em 7 de outubro será ensinado nas academias militares.”

O ataque do Hamas

No dia 7 de outubro, um ataque em grande escala realizado pelo Hamas, grupo radical que controla a Faixa de Gaza, pegou Israel de surpresa. A ofensiva envolveu parapentes motorizados, motos e cerca de mil combatentes, que atacaram por ar, terra e mar, com aproximadamente três mil foguetes disparados contra o território israelense.

A ação dos militantes matou cerca de 1,4 mil pessoas em Israel, enquanto mais de 200 foram feitas reféns. A complexidade e a eficiência do ataque levantam a suspeita de que tenha sido apoiado pelo Irã e geraram críticas ao habitualmente eficiente serviço de inteligência israelense, que desta vez foi incapaz de antecipar o movimento.

Na mesma entrevista à TV egípcia, Mashal exaltou o ataque e disse que “os árabes ensinaram ao mundo um golpe de mestre”, que, segundo ele, agora tende a ser reproduzido por outras nações.

O ex-líder do Hamas ainda conclamou o Hezbollah, grupo radical libanês apoiado por Teerã, a entrar no conflito contra Israel, que classificou como “genocida” da parte do governo israelense. “Não há dúvida de que se o Hezbollah se juntar a nós fará uma diferença real. Esperamos que isso aconteça, mas a decisão é deles”, afirmou. 

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