França provavelmente ajudará a defender Taiwan em caso de invasão chinesa, diz senador

Em visita à ilha, senador francês Alain Richard disse que Paris se opõe a qualquer tentativa unilateral de causar instabilidade no Estreito

Em visita a Taiwan nesta semana, onde participa de reuniões sobre segurança regional e cooperação bilateral, o senador francês Alain Richard, presidente do Grupo de Amizade de Taiwan do Senado, disse que, caso uma invasão militar chinesa ocorra por lá, há grandes possibilidades de seu país escolher lado e agir com os EUA na defesa da ilha. As informações são do jornal Taipei Times.

O comentário de Richard foi feito à rádio France Info. Na entrevista, o político reiterou que Paris é contrária a qualquer tentativa unilateral de causar instabilidade no Estreito de Taiwan.

Senador francês Alain Richard fala durante reunião com o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan (Foto: Ministry of Foreign Affairs Taiwan/Reprodução Twitter)

Para o Ministério de Relações Exteriores de Taipé, a passagem do senador e comitiva pelo território semiautônomo manda uma mensagem importante à comunidade internacional, disse o órgão governamental em comunicado.

“À medida que a guerra Rússia-Ucrânia continua e a China continua a atacar e ameaçar Taiwan com força militar na tentativa de minar a paz e a estabilidade da região do Indo-Pacífico, a delegação visitante transmite à comunidade internacional a importância de Taiwan e da França fazerem parte do campo democrático e trabalhando juntos para proteger valores compartilhados”.

A França, que condenou os exercícios militares de Beijing no entorno da ilha, demonstra apoio a Taiwan desde que Richard foi ministro da Defesa francês, no período de 1997 a 2002. “A luta de Taiwan pela democracia é admirável e um “exemplo para o mundo”, disse ele, acrescentando que a presença militar chinesa representa atos “perigosos, invasivos e irresponsáveis”, disse o francês em coletiva de imprensa.

O senador, tido como “um velho amigo de Taiwan” por unir parlamentares de diferentes partidos no Senado francês na aprovação de uma resolução que apoia a província chinesa a ingressar em organizações internacionais, recebeu do presidente do Legislativo taiwanês, You Si-kun, a Medalha de Honra de Primeira Classe Legislativa Yuan por “sua contribuição no fortalecimento dos laços entre a França e Taiwan”.

Separadamente, uma delegação composta por 11 integrantes do Formosa Club, grupo de parlamentares latino-americanos do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e México, chegou na segunda-feira (24) a Taiwan para a primeira visita ao país, disse o ministério taiwanês.

O Formosa Club tem ajudado a aumentar a visibilidade internacional de Taiwan enviando cartas conjuntas, aprovando resoluções e emitindo declarações, entre elas sobre a legitimidade e urgência da inclusão da ilha na OMS (Organização Mundial da Saúde).

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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