Incursões chinesas em Taiwan quase dobraram no ano passado, aponta levantamento

Somente em agosto, mês da visita à ilha de Nancy Pelosi, Beijing enviou 440 aviões de guerra para sobrevoar o território semiautônomo

Cada vez mais sob pressão da ChinaTaiwan viu quase dobrarem em 2022 as incursões de jatos da força aérea chinesa em seu espaço aéreo. As informações são do jornal Taipei Times.

As relações, que já não eram boas, tiveram piora significativa em agosto, logo após a visita à ilha de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA.

Irritada com o que considera uma violação da política de “Uma só China”, que reivindica Taiwan como parte de seu território, Beijing gerou uma resposta belicista através de exercícios militares sem precedentes no entorno taiwanês.

Somente naquele mês, que marcou a primeira visita de um parlamentar norte-americano a Taiwan em 25 anos, a China enviou um número recorde de aviões de guerra: 440.

Produzido na China, o bombardeiro H6 possui capacidade de ataque nuclear (Foto: WikiCommons)

No total, foram 1.727 aviões chineses enviados à zona de identificação de defesa aérea taiwanesa no ano passado, segundo levantamento do Ministério da Defesa Nacional, um número bem acima do registrado em 2021, quando foram contabilizadas 960 incursões, após as 380 de 2020.

A presença de caças mais que dobrou, indo de 538 em 2021 para 1.241 em 2022. Já as incursões de bombardeiros, incluindo o H6, de capacidade nuclear, pularam de 60 para 101. O ano passado também testemunhou as primeiras incursões de drones, sendo todos os 71 relatados pelos militares após a visita de Pelosi.

Na visão de analistas militares, Beijing usa suas incursões para sondar as defesas de Taiwan, esgotar sua força aérea envelhecida e expressar descontentamento com o apoio dos EUA ao território semiautônomo.

“Os chineses querem mostrar sua determinação, sua vontade e coagir os Estados Unidos para que não se aproximem muito de suas linhas vermelhas”, diz o ex-Chefe do Estado-Maior taiwanês, almirante Lee Hsi-ming.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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