Jornalista sino-australiana detida na China por três anos retorna à Austrália

Cheng Lei, que havia sido condenada em 2020 por acusações obscuras de espionagem, retornou a Melbourne nesta quarta-feira

A jornalista sino-australiana Cheng Lei voltou à Austrália nesta quarta-feira (11), após passar três anos detida na China por acusações de espionagem. Ela atuava como repórter da versão em inglês da TV estatal chinesa CGTN. As informações são da rede BBC.

O retorno foi anunciado pelo primeiro-ministro Anthony Albanese, que destacou que a soltura ocorreu antes de sua planejada visita a Beijing, a primeira de um premiê australiano à capital chinesa em sete anos. O político afirmou que Camberra não fez nenhuma negociação para a libertação da jornalista.

Cheng, de 48 anos, exercia a função de repórter de negócios quando foi detida em 13 de agosto de 2020. Ela enfrentou acusações de “fornecer ilegalmente segredos de Estado no exterior” e recebeu uma sentença de dois anos e 11 meses.

Cheng Lei ficou detida por quase três anos (Foto: Web Summit/Flickr)

O Ministério da Segurança do Estado da China afirmou que Cheng foi abordada por uma organização estrangeira em maio de 2020 e compartilhou segredos de Estado obtidos no seu trabalho, infringindo um acordo de confidencialidade que havia assinado com seu empregador. O comunicado policial não identificou a organização nem especificou quais eram os segredos em questão.

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, afirmou que o sistema judicial chinês julgou o caso “de acordo com as leis” e garantiu plenamente “os direitos da pessoa envolvida, em conformidade com a legislação vigente”. Também acrescentou que ela “se declarou culpada de suas acusações”. 

Os julgamentos na China geralmente são concluídos em um dia, e o país tem uma taxa de condenação de 99%.

Questionado por um repórter, Albanese comentou que Beijing, ao libertar Cheng, não reconheceu que ela não representava uma ameaça ou que sua detenção foi injusta.

À agência Associated Press, Albanese relatou que teve uma conversa com Cheng em Melbourne, onde seus filhos vivem. Durante o diálogo, abordaram o tempo que ela passou na prisão na China e as condições em que viveu, incluindo o fato de que só podia ver a luz solar por um total de dez horas ao longo de um ano. Albanese elogiou “a força e a resiliência” de Cheng, afirmando que ela ficou visivelmente contente por estar de volta.

Por que isso importa?

A relação cordial entre China e Austrália começou a deteriorar em 2018, quando Camberra proibiu a Huawei em sua rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. E teve piora em 2020, quando os australianos cobraram uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira dos chineses.

Um documento de 14 páginas vazado de forma deliberada pela Embaixada da China na Austrália, em novembro do ano passado, já apontava a grave deterioração nas relações entre os dois países. Nele, Beijing acusava o então primeiro-ministro Scott Morrison de “envenenar as relações bilaterais”.

A carta ainda culpava Camberra pelos relatórios “hostis e antagônicos” sobre a China na mídia australiana independente e pelos ataques ao acordo da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative) no estado de Victoria, onde fica Melbourne.

Atualmente, porém, as relações têm melhorado, sobretudo após a eleição do Partido Trabalhista de centro-esquerda de Albanese, após nove anos de governo conservador. Nesse novo cenário, Beijing eliminou diversas barreiras comerciais, tanto oficiais quanto não oficiais, que afetavam as exportações australianas.

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