Em crise, Evergrande tem US$ 157 milhões em ativos congelados pela Justiça

Com dívida de cerca de US$ 300 bilhões, empresa tem sido processada por fornecedores e empreiteiros que não têm sido pagos

A Justiça da China, em duas ações separadas, congelou o equivalente a US$ 157 milhões em ativos da incorporadora imobiliária Evergrande nos últimos dias. É o mais recente de uma série de desdobramentos do endividamento da empresa, que tem dado calote em seus credores e chamou a atenção para a crise do setor imobiliário chinês. As informações são do jornal indiano The Economic Times.

Uma parte dos ativos congelados, avaliados em US$ 101 milhões, são de uma subsidiária do grupo Evergrande, segundo documentos da Shanghai Construction Group. A outra parte dos ativos, de US$ 56 milhões, foi congelada por um tribunal de Guangzhou e pertence a outra subsidiária. Entre os ativos congelados pela Justiça estão depósitos bancários e imóveis.

Edifícios residenciais da Evergrande em Yuanyang, China, março de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

A estatal Shanghai Construction Group ingressou com uma ação judicial contra a subsidiária da Evergrande na cidade de Chengdu, sudoeste da China, em dezembro de 2021, por calote em pagamentos de taxas de construção.

A Evergrande tem uma dívida de US$ 300 bilhões, tida como a maior do mundo no ramo imobiliário. Isso levou uma série de fornecedores e empreiteiros a processarem a empresa. A fim de controlar melhor a situação, todos os casos envolvendo a empresa têm sido concentrados em uma corte de Guangzhou desde agosto do ano passado.

O presidente da incorporadora, Hui Ka Yan, disse em uma reunião interna, no início deste mês, que pretendia restaurar totalmente as obras na China anda em fevereiro. Ele afirmou, ainda, que a intenção é liquidar a dívida restaurando totalmente as atividades de construção e as vendas de imóveis, e não vendendo ativos a preços baixos.

Por que isso importa?

Além da inadimplência no setor imobiliário, a China sofre também com uma crise energética, decorrente do aumento do preço das fontes de energia globais, da escassez de carvão no país e das consequentes interrupções da produção em diversas fabricas. “A restrição de produção e a escassez de energia provavelmente continuarão pesando no crescimento do quarto trimestre”, disse recentemente uma projeção feita pelos economistas do banco suíço UBS.

Uma junção de fatores colocou a China nessa situação. Primeiro, a pressão do governo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, com vistas à meta de atingir a neutralidade de emissões até 2060. Num país que tem quase 60% da economia dependente do carvão, a solução foi impor racionamento de energia em residências e na indústria, a fim de manter sob controle as emissões provenientes da queima de carvão.

Paralelamente, as chuvas torrenciais que atingiram o país recentemente causaram inundações na província de Xanxim, de onde sai cerca de 30% de todo o carvão consumido no país. Como resultado, o preço do produto disparou, e o governo agora se vê numa encruzilhada, forçado a suspender os limites de produção de carvão existentes por razões ambientais.

Na indústria, as grandes vítimas do racionamento são os setores que demandam mais energia elétrica, como a produção de cimento e as fundições de alumínio e aço, segundo a rede britânica BBC. Num caso extremo, uma fábrica têxtil da província de Jiangsu cortou totalmente a energia num período entre setembro e outubro. Com isso, cerca de 500 trabalhadores tiveram que deixar seus postos e receberam um mês de folga remunerada.

Diferente da crise imobiliária, a energética pode, sim, gerar reflexos relevantes para a economia mundial. Isso porque a cadeia de produção global se habituou com os baixos preços dos produtos oferecidos pela China. Se a escassez de energia levar a uma queda brusca de produção na indústria chinesa, o fornecimento diminuiria e teríamos uma tendência de aumento de preços, com impacto inflacionário relevante no mundo todo.

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