Negociação de ações da Evergrande é suspensa em Hong Kong por suspeita de irregularidades

Presidente da empresa, Hui Ka Yan, é alvo de uma investigação por parte das autoridades chinesas e está sob vigilância policial

A negociação de ações da China Evergrande, a incorporadora imobiliária mais endividada do mundo, foi suspensa em Hong Kong devido a uma investigação envolvendo seu presidente, Hui Ka Yan. As informações são da agência Associated Press.

As autoridades tomaram medidas judiciais devido a “suspeitas de crimes”, resultando na suspensão das negociações de ações da empresa. A Evergrande, que está no epicentro de uma crise financeira que afeta todo o setor imobiliário chinês desde 2021, não divulgou detalhes sobre as acusações.

O grupo está atualmente passando por um plano de reestruturação, que inclui a transferência de ativos, a fim de evitar o descumprimento de uma dívida colossal de US$ 340 bilhões.

Edifícios residenciais desenvolvidos pela Evergrande em Yuanyang, na China, março de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

As ações da Evergrande fecharam a 32 centavos de dólar de Hong Kong na quarta-feira (27). A empresa retomou as negociações em 28 de agosto, após um hiato de 17 meses. Além disso, as negociações de duas outras unidades, China Evergrande New Energy Vehicle Group e Evergrande Property Services Group, também foram interrompidas nesta quinta-feira (28).

Na semana passada, a Evergrande informou em um comunicado que teve que adiar uma proposta de reunião para reestruturar sua dívida com os credores, devido a vendas abaixo das expectativas.

Por fim, o regulador financeiro da China anunciou a aprovação da aquisição do braço de seguros de vida do grupo por uma nova entidade estatal.

Neste mês, as ações da China Evergrande sofreram uma queda de até 25% após relatos sobre a detenção de funcionários pelas autoridades chinesas, disse um comunicado emitido pela polícia de Shenzhen, no sul do país. A nota ainda mencionava a aparente ação legal contra Du Liang, um executivo de alto escalão na unidade de gestão de patrimônio da Evergrande, juntamente com outros indivíduos.

Presidente na mira da polícia

À medida que os problemas do gigante imobiliário chinês se intensificaram, Hui Ka Yan foi colocado sob vigilância policial, segundo a rede BBC.

Em 2017, Hui se tornou a pessoa mais rica da China, com uma fortuna de US$ 42,5 bilhões. No entanto, sua riqueza diminuiu consideravelmente desde então, principalmente devido aos problemas da incorporadora, e ele tem se mantido discreto nos últimos anos.

A Evergrande anunciou que a negociação de suas ações permanecerá suspensa indefinidamente, o que representa mais um revés para a empresa altamente endividada, que entrou em default em 2021, desencadeando a atual crise no mercado imobiliário chinês.

Em agosto, a empresa entrou com pedido de falência nos EUA como parte de uma tentativa de proteger seus ativos americanos enquanto buscava um acordo. Em um comunicado divulgado na quinta-feira (28), a Evergrande informou que Hui “foi submetido a medidas legais obrigatórias devido a suspeitas de atividades ilegais”, sem fornecer mais detalhes.

Por que isso importa?

Foi o endividamento da Evergrande que chamou a atenção para a crise imobiliária chinesa, símbolo das dificuldades enfrentadas pela economia local e seu outrora próspero setor. Depois de expandir e tomar empréstimos a uma velocidade vertiginosa, a incorporadora alega que tem lutado para juntar o dinheiro que precisa para honrar dívidas em atraso, empréstimos pendentes e salários atrasados.

Hui Ka Yan, fundador e presidente da companhia e que encabeça a lista de bilionários devedores do setor imobiliário chinês, já perdeu pagamentos de cerca de US$ 20 bilhões em títulos internacionais e ainda não ofereceu um plano de reestruturação viável para a empresa. Ele tentou restaurar a confiança no seu negócio em fevereiro de 2022, ao descartar a venda de ativos, alegando que a empresa concluiria metade de seus projetos restantes no decorrer daquele ano.

Em março do ano passado, a Evergrande teve suspensa a negociação de suas ações na bolsa de Hong Kong e foi avisada de que precisa informar as autoridades locais sobre como será executada a reestruturação da companhia. No dia seguinte ao anúncio, a gigante chinesa teve cerca de US$ 2,1 bilhões em dinheiro apreendidos por bancos para o pagamento de credores.

Os problemas na incorporadora tiveram um impacto significativo na economia chinesa como um todo, levando as autoridades a intensificarem suas medidas de estímulo econômico. Isso ocorreu em resposta a desafios mais amplos, incluindo uma queda na demanda do consumidor.

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