Paquistão relata novas mortes em virtude de ataque terrorista e culpa o Afeganistão

Relatório publicado em outubro alertou para o aumento dos ataques terroristas no Paquistão desde que o Taleban chegou ao poder

Já são 63 as vítimas fatais do ataque terrorista ocorrido no último domingo (3) na cidade de Bajur, na província de Khyber Pakhtunkhwa, noroeste do Paquistão. Ao confirmar as novas mortes, o governo paquistanês atribuiu a culpa pela onda de violência jihadista no país ao vizinho Afeganistão, que desde agosto de 2021 é governado pelo Taleban. As informações são da agência Al Jazeera.

“Até agora, 63 pessoas morreram no atentado suicida”, disse Liaquat Ali, porta-voz do hospital estatal de Bajaur, acrescentando que 123 pessoas continuam internadas em virtude da explosão, situação que pode elevar o número de mortos nos próximos dias.

O ataque do final de semana, realizado por um terrorista suicida, foi reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), que opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria.

O alvo foi um comício eleitoral do partido Jamiat Ulema Islam, que é liderado pelo clérigo Fazlur Rehman e apoia o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Shari.

Segundo o premiê, “cidadãos afegãos” estão envolvidos neste ataque e em outros recentes no Paquistão, que também luta contra a insurgência do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popular Taleban do Paquistão, que mantém relação cordial com o Taleban afegão, embora sejam entidades separadas.

“O primeiro-ministro notou com preocupação o envolvimento de cidadãos afegãos nas explosões suicidas”, disse um comunicado do gabinete de Sharif.

Ainda de acordo com o chefe de governo, existe “liberdade de ação disponível para os elementos hostis ao Paquistão no planejamento e execução de tais ataques covardes a civis inocentes dos santuários do outro lado da fronteira.”

Homem-bomba do EI-K no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)
Violência crescente

O EI-K foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para o Afeganistão fugindo da pressão crescente das forças de segurança paquistanesas. Nos últimos anos, a organização vem usando o território afegão como abrigo e tem no Taleban seu mais importante inimigo.

Ataques suicidas como o de domingo são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

Em outubro de 2022, o think tank paquistanês Pak Institute for Peace Studies (PIPS) publicou um estudo segundo o qual o número de ataques terroristas no Paquistão aumentou 51% desde agosto de 2021, quando o Taleban assumiu o governo do vizinho Afeganistão.

De acordo com a entidade, 433 pessoas morreram, com 719 feridas, em 250 ataques terroristas que ocorreram no Paquistão entre 15 de agosto de 2021 e 14 de agosto de 2022. No período correspondente anterior, entre 2020 e 2021, os números foram menores: 165 ataques, com 294 mortos e 598 feridos.

O documento destaca algo que a ONU (Organização das Nações Unidas) já havia alertado: sob o Taleban, o Afeganistão tornou-se destino preferencial de jihadistas. “Grupos terroristas estrangeiros baseados no Afeganistão tomam a vitória do Taleban como motivação para disseminar sua propaganda na Ásia Central e do Sul e globalmente”, disse o think tank.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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