Já são 63 as vítimas fatais do ataque terrorista ocorrido no último domingo (3) na cidade de Bajur, na província de Khyber Pakhtunkhwa, noroeste do Paquistão. Ao confirmar as novas mortes, o governo paquistanês atribuiu a culpa pela onda de violência jihadista no país ao vizinho Afeganistão, que desde agosto de 2021 é governado pelo Taleban. As informações são da agência Al Jazeera.
“Até agora, 63 pessoas morreram no atentado suicida”, disse Liaquat Ali, porta-voz do hospital estatal de Bajaur, acrescentando que 123 pessoas continuam internadas em virtude da explosão, situação que pode elevar o número de mortos nos próximos dias.
O ataque do final de semana, realizado por um terrorista suicida, foi reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), que opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria.
O alvo foi um comício eleitoral do partido Jamiat Ulema Islam, que é liderado pelo clérigo Fazlur Rehman e apoia o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Shari.
Segundo o premiê, “cidadãos afegãos” estão envolvidos neste ataque e em outros recentes no Paquistão, que também luta contra a insurgência do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popular Taleban do Paquistão, que mantém relação cordial com o Taleban afegão, embora sejam entidades separadas.
“O primeiro-ministro notou com preocupação o envolvimento de cidadãos afegãos nas explosões suicidas”, disse um comunicado do gabinete de Sharif.
Ainda de acordo com o chefe de governo, existe “liberdade de ação disponível para os elementos hostis ao Paquistão no planejamento e execução de tais ataques covardes a civis inocentes dos santuários do outro lado da fronteira.”
Violência crescente
O EI-K foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para o Afeganistão fugindo da pressão crescente das forças de segurança paquistanesas. Nos últimos anos, a organização vem usando o território afegão como abrigo e tem no Taleban seu mais importante inimigo.
Ataques suicidas como o de domingo são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.
Em outubro de 2022, o think tank paquistanês Pak Institute for Peace Studies (PIPS) publicou um estudo segundo o qual o número de ataques terroristas no Paquistão aumentou 51% desde agosto de 2021, quando o Taleban assumiu o governo do vizinho Afeganistão.
De acordo com a entidade, 433 pessoas morreram, com 719 feridas, em 250 ataques terroristas que ocorreram no Paquistão entre 15 de agosto de 2021 e 14 de agosto de 2022. No período correspondente anterior, entre 2020 e 2021, os números foram menores: 165 ataques, com 294 mortos e 598 feridos.
O documento destaca algo que a ONU (Organização das Nações Unidas) já havia alertado: sob o Taleban, o Afeganistão tornou-se destino preferencial de jihadistas. “Grupos terroristas estrangeiros baseados no Afeganistão tomam a vitória do Taleban como motivação para disseminar sua propaganda na Ásia Central e do Sul e globalmente”, disse o think tank.
Terrorismo no Brasil
Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.