Professor de tai chi chuan é acusado de treinar força revolucionária em Hong Kong

Autoridades alegam que os alunos aprendiam a usar armas e a matar, com o objetivo de derrubar o governo de Hong Kong

As autoridades de Hong Kong acusam um professor de tai chi chuan de 59 anos, bem como o auxiliar dele, de 62 de treinarem uma força rebelde clandestina com o intuito de derrubar o governo local e o Partido Comunista Chinês (PCC) e, assim, instaurar um Estado independente no território. As informações são da rede Radio Free Asia.

Wong Tak-keung foi formalmente acusado de “agir com intenção sediciosa”, “posse de arma ofensiva” e “posse de arma de fogo sem licença”. Já o assistente dele, Cheung Man-chi, enfrenta apenas as acusações referentes às armas. Os dois foram presos, com pedido de fiança negado.

Na operação que levou à prisão dos dois homens, a polícia diz ter apreendido o que seriam as armas a serem usadas para depor o governo: uma pistola de ar, oito bestas, 30 flechas com ponta de aço e uma coleção de espadas de tai chi chuan.

“As pessoas presas foram profundamente afetadas pela desinformação e se autorradicalizaram. Agora, estão espalhando a desinformação para outras pessoas”, disse o superintendente da polícia Steve Li.

Performance de Tai Chi Chuan usando espadas em Cingapura, março de 2009 (Foto: Flickr)

Agora, as autoridades dizem estar em busca das pessoas que eventualmente tenham sido treinada pelos acusados. “Com este ciclo vicioso, estamos muito preocupados que os radicalizados deem um passo adiante e cometam ataques terroristas”, disse Li.

O jornal Ta Kung Pao, ligado ao PCC, disse que os alunos tinham a intenção de “matar”, engajar-se em “revolução armada” e “estabelecer um governo paralelo“. Outro periódico pró-Beijing, o Wen Wei Po, disse que o curso formava um “esquadrão da morte” e tinha como meta “incitar o povo de Hong Kong a derrubar o PCC pela força”.

O crime de sedição, usado contra os dois acusados, não está previsto na lei de segurança nacional imposta pelo governo da China em 2020 para conter os opositores ao governo de Hong Kong. Porém, tribunais locais têm usado os poderes conferidos pela lei para aplicar normas da era colonial que previam a sedição.

Por que isso importa?

Após a transferência de Hong Kong do domínio britânico para o chinês, em 1997, o território passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa por independência e democracia em 2019.

A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela “lei de segurança nacional“, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.

No final de julho de 2021, um ano após a implementação da lei, foi anunciado o primeiro veredito de uma ação judicial baseada na nova normativa. Tong Ying-kit, um garçom de 24 anos, foi condenado a nove anos de prisão sob as acusações de praticar terrorismo e incitar a secessão.

O incidente que levou à condenação ocorreu em 1º de julho de 2020, o primeiro dia em que a lei vigorou. Tong dirigia uma motocicleta com uma bandeira preta na qual se lia “Liberte Hong Kong. Revolução dos Nossos Tempos”, slogan usado pelos ativistas antigoverno nas manifestações de 2019.

Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes nos últimos meses. O trabalho da imprensa tornou-se particularmente difícil, com seguidos casos de jornalistas presos com base na lei. As autoridades de Hong Kong rejeitam essas afirmações, e o governo local nega ter como alvo a mídia, insistindo que a lei é necessária para preservar a segurança nacional.

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