Repressão cultural do governo chinês atinge os karaokês e o ‘happy hour’

Partido Comunista Chinês (PCC), planeja censurar músicas cujas letras disseminem o que o governo considera "informações prejudiciais"

A repressão cultural na China está prestes a atingir os karaokês e o happy hour dos trabalhadores locais. A Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCID), órgão fiscalizador do Partido Comunista Chinês (PCC), planeja censurar músicas cujas letras disseminem o que o governo considera “informações prejudiciais”, além de limitar o acesso a bebidas alcóolicas depois do horário comercial. As informações são do jornal Financial Times.

O alvo da censura cultural são canções que, na visão do PCC, incentivem o uso de drogas ou as apostas ilegais. Músicas com temas religiosos e revolucionários, tidas como ameaças à soberania nacional, também estão na mira. Num primeiro momento, não há proibição, mas letras que se enquadrem nesses quesitos devem ser notificadas como tal pelos estabelecimentos.

No caso das bebidas alcóolicas, o principal foco do governo é o happy hour, em meio a um aumento de denúncias de assédio e agressão sexual contra mulheres. O estopim foi uma acusação de estupro feita por uma funcionária contra um diretor do grupo Alibaba, um gigante global do comércio online.

Karaokê (Foto: Nikola Đuza/Unsplash)

Na Tencent, uma multinacional de tecnologia, estagiários iniciaram um movimento para que a empresa coloque fim ao que consideram pressão social para consumir bebida alcoólica. O argumento é o de que as bebedeiras invariavelmente levam a episódios de assédio sexual. Martin Lau, presidente da empresa, disse que a questão está sendo analisada pelo setor de recursos humanos.

Na visão do governo, a questão é mais ampla, e o hábito de consumir bebidas alcoólicas depois do trabalho pode levar à prática de crimes. Sendo assim, a CCID sugere que os tradicionais happy hours sejam substituídos por eventos que transmitam “valores corretos” aos cidadãos.

Me Too

Por trás desse processo de combate ao álcool está o movimento MeToo, que surgiu em 2006 na extinta rede social MySpace e combate o abuso sexual e o assédio sexuais. “Uma das consequências da situação do MeToo é que provavelmente obteremos maior regulamentação do entretenimento”, disse Thomas Gatley, analista do grupo de pesquisa Gavekal Dragonomics, com sede em Beijing.

Para Ng Jun Ying, analista da agência de avaliação Fitch Solutions, ao menos num primeiro momento, o tiro deve sair pela culatra no caso dos happy hours. “Em um prazo muito curto, as vendas de álcool provavelmente aumentarão, à medida em que os consumidores chineses acumulam bebidas na expectativa de qualquer repressão”, afirmou. “No entanto, é muito plausível que as autoridades intervenham na indústria do entretenimento, à luz dos desenvolvimentos recentes”.

Filmes censurados

Em setembro, Hong Kong iniciou um processo para ampliar a censura imposta a filmes que são considerados uma “ameaça à segurança nacional”. O alvo passaram a ser filmes antigos, de forma a colocar as antigas produções locais dentro das regras impostas pela lei de segurança nacional imposta pela China em 2020.

Ao debater tal ferramenta de repressão, a ex-colônia britânica acena para a censura vigente na China, onde as autoridades têm o poder de criminalizar expressões artísticas tidas como “subversivas”. Tais bloqueios, que ocorrem com a justificativa de que ferem os valores do PCC, podem causar uma ruptura da outrora celebrada indústria cinematográfica de Hong Kong.

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