Repressão estatal é incapaz de impedir protestos populares na China, aponta estudo

Think tank relata 688 manifestações populares entre junho e setembro deste ano e expõe fragilidade da censura de Beijing

Apesar da forte repressão imposta pelo governo da China, com vigilância tecnológica e duras penas impostas aos dissidentes, as manifestações populares são frequentes em todo o país. É o que aponta um estudo realizado pelo think tank norte-americano Freedom House, cujo resultado foi divulgado na semana passada.

Entre junho e setembro deste ano, foram registradas na China 688 manifestações populares, segundo o relatório da Freedom House. São variados os motivos que levaram os cidadãos a expor a insatisfação: obras paralisadas em empreendimentos imobiliários, violações de direitos trabalhistas, fraude bancária, a radical política “Zero Covid” do governo e até a violência estatal.

Em ao menos 168 desses episódios registrados houve uma resposta dura das autoridades, “incluindo violência, intimidação, detenção e censura”, diz o estudo.  

Cena cotidiana em Xangai, na China (Foto: Nuno Alberto/Unsplash)

“Ao contrário do que o Partido Comunista Chinês (PCC) quer que o mundo acredite, indivíduos em toda a China estão enfrentando a máquina de censura e repressão de Beijing para fazer suas vozes serem ouvidas”, disse Michael J. Abramowitz, presidente do think tank.

A constatação do estudo é a de que os protestos não estão concentrados em uma área, mas espalhados por todo o país. O maior número de eventos, 77, ocorreu na província de Hebei, ao norte de Beijing; 72 foram em Henan, na região central; 49 em Guangdong, no sul; e mais 49 em Shaanxi, uma província relativamente rural também na área central da China.

Quanto à motivação dos manifestantes, o que mais levou os chineses a protestar foi a paralisação de obras em empreendimentos imobiliários, o que deixou muitos compradores sem o imóvel pelo qual pagaram. Foram 215 episódios do gênero. Em segundo lugar na lista aparecem as manifestações em função de salários ou benefícios não pagos por empregadores, com 109, seguido por fraudes, 105.

“Mais chineses estão dando o passo corajoso de exercer seus direitos fundamentais à liberdade de expressão e reunião, até mesmo obtendo algumas concessões de empresas privadas e autoridades locais. O que é preocupante para o partido cada vez mais opressor”, afirmou Abramowitz.  

Outro mito derrubado pelo estudo é o de que a internet na China não dá espaço para os descontentes se manifestarem e se organizarem. Apesar da vigilância online intensa, é na rede de computadores que os focos de insatisfação costumam surgir. “Dezoito casos de movimentos de hashtag online nos quais os usuários criticaram o governo ou atores privados poderosos foram documentados durante o período do estudo”, diz a entidade.

Segundo Kevin Slaten, líder de pesquisa do banco de dados China Dissent Monitor, onde foram registrados os eventos, “a dissidência na China é vibrante e generalizada, tanto offline quanto online”. E acrescentou: “Esperamos que o China Dissent Monitor eleve as vozes e histórias das pessoas na China para que sejam ouvidas em todo o mundo”. 

 

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