Seul aponta relação entre a Coreia do Norte e o ataque do Hamas a Israel

Autoridade diz que Pyongyang e o grupo estão ligados em áreas como 'comércio de armas, orientação tática e treinamento'

O Hamas, que atacou Israel no dia 7 de outubro, dando início a um conflito que já dura mais de dez dias no Oriente Médio, utiliza armas provenientes da Coreia do Norte, que também forneceu treinamento e orientações militares ao grupo extremista. A alegação foi feita na terça-feira (17) por um membro das forças armadas da Coreia do Sul, segundo informa a rede Radio Free Asia (RFA).

“Acredita-se que o Hamas esteja direta ou indiretamente ligado à Coreia do Norte em diversas áreas, como comércio de armas, orientação tática e treinamento”, declarou um alto membro do Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul, que pediu para ter a identidade preservada.

Ainda segundo a fonte, o caminho inverso também precisa ser considerado, com o apoio dos extremistas a Pyongyang. “Existe a possibilidade de a Coreia do Norte usar os métodos de ataque do Hamas em uma invasão surpresa da Coreia do Sul”, disse ele.

O chefe de Estado da Coreia do Norte Kim Jong-un (centro) na Rússia em 2019 (Foto: Divulgação/Kremlin)

Na semana passada, a RFA disse ter analisado um vídeo compartilhado das redes sociais que mostra um combatente do Hamas segurando um lançador de granadas norte-coreano. O militar confirmou a suspeita, mas disse que não é possível estabelecer se a arma chegou ao Hamas diretamente da Coreia do Norte ou se foi revendida por terceiros.

A fonte afirmou ainda que projéteis de artilharia identificados perto da linha divisória entre Israel e a Faixa de Gaza também são possivelmente norte-coreanos, devido às semelhanças com artefatos usados por Pyongyang perto da fronteira com a Coreia do Sul.

A suspeita de que a Coreia do Norte forneceu orientações ao Hamas especificamente para o ataque de 7 de outubro surgiu porque o grupo radical usou parapentes motorizados para invadir o território israelense, tática que foi bastante treinada pelos militares do regime comunista em simulações de uma agressão ao país vizinho.

Bruce Bennett, membro sénior do think tank norte-americano RAND Corporation, disse que a relação entre Pyongyang e o Hamas é realmente provável. “Durante muitos anos, a Coreia do Norte enviou o seu pessoal militar ao exterior para ajudar a treinar militares estrangeiros em muitos países, por isso não deveria ser surpresa encontrar treinadores militares norte-coreanos em Gaza a apoiar o Hamas”, disse. 

O regime comunista nega as acusações, mas Bennett diz que tais alegações não merecem crédito. “A Coreia do Norte quase sempre nega seu envolvimento com outros países, por isso a negação norte-coreana de que as suas armas sejam usadas pelo Hamas é exatamente o que esperaríamos”, afirmou.

A origem do arsenal do Hamas

Apesar das suspeitas, a Coreia do Norte não é tratada pelo Ocidente como importante fornecedor de armas ao Hamas, considerado terrorista por países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, Japão e alguns membros da União Europeia (UE).

Em relatório de contraterrorismo que aborda o ano de 2020, o Departamento de Estado norte-americano afirmou que o governo iraniano é o maior apoiador do Hamas, tendo fornecido “até US$ 100 milhões anualmente em apoio combinado a grupos terroristas palestinianos, incluindo o Hamas, a Jihad Islâmica Palestina (JIP) e a Frente Popular para a Libertação da Palestina.”

Inclusive, altos membros de grupos radicais ouvidos pelo jornal The Wall Street Journal (WSJ) alegam que agentes da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), a elite das forças armadas iranianas, atuaram em colaboração com o Hamas desde agosto deste ano para planejar uma ofensiva abrangente contra Israel.

Segundo especialistas ouvidos pela rede CNN, a aliança funciona não somente para o envio de armas ao Hamas. Teerã colabora também para a formação de engenheiros capazes de construir em Gaza parte do arsenal da facção.

Um dia após o ataque, um alto funcionário do Hamas confirmou que muitas armas são realmente produzidas dentro da Faixa de Gaza. Em entrevista ao canal russo em árabe RTArabic, Ali Baraka, chefe de Relações Exteriores do Hamas, disse que inclusive Moscou tem uma parcela de responsabilidade.

“Temos fábricas locais para tudo: para foguetes com alcance de 250 quilômetros, de 160 quilômetros, de 80 quilômetros e de 10 quilômetros. Temos fábricas de morteiros e projéteis”, disse ele. “Temos fábricas de Kalashnikovs (rifles AK) e suas balas. Estamos fabricando as balas com permissão dos russos. Estamos construindo isso em Gaza.”

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