A força aérea da Coreia do Sul entrou em ação na última semana para responder a uma incursão não anunciada de aeronaves da China e da Rússia na zona de identificação sul-coreana. O Estado-Maior de Seul afirmou na sexta-feira (19) que os aviões foram detectados perto na costa leste do país, a nordeste das ilhas Dokdo, que são reivindicadas também pelo Japão. As informações são da rede alemã Deutsche Welle (DW).
As aeronaves teriam permanecido na zona de identificação por cerca de dez minutos, sem, no entanto, invadir o espaço aéreo sul-coreano. A zona de identificação fica habitualmente além do território e do espaço aéreo de uma nação e serve para dar tempo de identificar possíveis operações estrangeiras hostis. Embora as incursões nessas áreas não sejam irregulares, é praxe anunciá-las previamente.
Ações semelhantes tornaram-se comuns e fazem parte das ações beligerantes da Rússia e sobretudo da China na Ásia. O objetivo nem é tanto provocar a Coreia do Sul, ou mesmo outras nações asiáticas, e sim o principal aliado militar de Seul, os Estados Unidos, cujas relações com Beijing e Moscou estão bastante estremecidas.
China x Filipinas
No mesmo dia em que a Coreia do Sul anunciou a incursão aérea, Washington fez um alerta a Beijing devido ao uso de canhões de água por embarcações da guarda costeira chinesa contra barcos de reabastecimento das Filipinas que se dirigiam a um atol ocupado pelo país no Mar da China Meridional, palco de reivindicações territoriais por parte da China e de outras nações. O incidente ocorreu na última terça-feira (16).
O governo norte-americano classificou a ação chinesa como “perigosa, provocativa e injustificada”, ressaltando que um ação hostil da China levaria a uma reação militar, com base em um compromisso de defesa mútuo firmado entre Washington e Manila. Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, afirmou em comunicado oficial publicado pela agência Reuters que a tensão provocada pela China “ameaça diretamente a paz e a estabilidade regionais”.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, por sua vez, reafirmou o compromisso com Manila e prometeu “apoiar nossos aliados filipinos”, em uma conversa telefônica com seu homólogo nas Filipinas, Delfin Lorenzana. “Eles concordaram com a importância vital da paz e da estabilidade no Mar da China Meridional e prometeram manter contato nos próximos dias”, disse o Pentágono em comunicado.
Por sua vez, o governo das Filipinas condenou “com veemência” as ações, atribuídas a três embarcações da guarda costeira da China.
Por que isso importa?
O fortalecimento militar chinês gera preocupação entre os norte-americanos e é assunto de interesse global, em função sobretudo da questão de Taiwan e das ações tidas como colonialistas da China na Ásia. Como os EUA são o principal aliado militar de Taiwan e de muitas nações asiáticas, uma ação hostil de Beijing na região sempre gera a ameaça de um conflito entre as duas superpotências.
Em caso de guerra com a China, a supremacia militar dos EUA não é uma garantia, considerando o alto investimento de Beijing no setor. Analistas e líderes militares ouvidos pela rede norte-americana Voice of America (VOA) afirmam inclusive que o exército chinês pode superar os Estados Unidos como detentor da mais poderosa força aérea do mundo na próxima década.
Em setembro, durante uma conferência militar, o general Charles Brown Jr., chefe do Estado-Maior da força aérea norte-americana, já havia qualificado o exército chinês como detentor das “maiores forças de aviação do Pacífico”. E disse que o posto foi alcançado “debaixo de nosso nariz”, sem uma resposta à altura. Mais: ele projetou que a China pode assumir a supremacia aérea militar global em 2035.
No mesmo evento, o tenente-general S. Clinton Hinote manifestou opinião semelhante e advertiu que os EUA não acompanham os avanços da China. “Em algumas áreas importantes, estamos atrasados. E falo ‘nesta noite’. Esse não é um problema de amanhã. É de hoje”. Posteriormente, em conversa privada com jornalistas, reforçou a opinião de que os chineses já igualaram os avanços tecnológicos norte-americanos no setor.
O arsenal nuclear da China também tem aumentado num ritmo muito maior que o imaginado anteriormente, levando a nação asiática a reduzir a desvantagem em relação aos Estados Unidos nessa área. Relatório recente do Pentágono sugere que Beijing pode atingir a marca de 700 ogivas nucleares ativas até 2027, tendo a meta de mil ogivas até 2030.
Por ora, o poder de fogo nuclear da China não se compara ao dos Estados Unidos, que têm cerca de 3,8 mil ogivas e não planejam ampliá-lo. Na verdade, o arsenal norte-americano foi drasticamente reduzido nos últimos anos, considerando que em 2003 eram cerca de 10 mil dispositivos ativos. Porém, se mantiver o projeto de longo prazo, a China planeja igualar ou mesmo superar tais números até 2049.