O exército das Filipinas realizará em fevereiro um treinamento com militares dos Estados Unidos para operar o sistema de mísseis de médio alcance Typhon. O exercício envolverá 20 soldados filipinos do regimento de artilharia, que treinarão com a Primeira Força-Tarefa Multidomínio norte-americana. A informação foi divulgada pelo porta-voz filipino coronel Louie Dema-ala, na terça-feira (28), e reproduzida pela revista Newsweek.
O Typhon, capaz de disparar mísseis Tomahawk e Standard Missile 6, foi enviado às Filipinas em abril de 2024 para exercícios militares e permaneceu no país de forma indefinida. Sua presença tem sido alvo de críticas da China, que considera a implantação “altamente perigosa”. Beijing reivindica territórios no Mar da China Meridional, onde frequentemente tem confrontos com Manila.
O treinamento se concentrará no “sistema de entrega de carga útil” do Typhon, sem incluir testes reais de disparo. O objetivo é aprimorar as capacidades de defesa marítima das Filipinas e fortalecer a cooperação militar entre os dois países. Em novembro, Manila revelou que avalia a possibilidade de comprar o sistema.
A localização do Typhon já foi alterada dentro do arquipélago filipino. Inicialmente, ele estava na base aérea de Laoag, na ilha de Luzon, mas foi realocado para outro ponto da mesma ilha. A partir de Laoag, os mísseis Tomahawk têm alcance para atingir o leste e o sul da China.

Além do treinamento com o Typhon, o exército das Filipinas realizará, em março, uma simulação realista de operações de guerra. Esse exercício servirá de preparação para outras manobras conjuntas com os Estados Unidos, como os exercícios Salaknib e Balikatan.
O coronel Louie Dema-ala destacou que esta é a “segunda iteração” do intercâmbio técnico sobre o sistema de mísseis com os americanos. “Estamos focados no sistema de entrega de carga útil e na continuação do que aprendemos na primeira iteração”, afirmou.
A China mantém sua posição contrária à presença do Typhon nas Filipinas. “Reiteramos nosso apelo para que as Filipinas ouçam os países e povos da região, corrijam esse erro o mais rápido possível, retirem rapidamente o sistema de mísseis Typhon, conforme prometeram publicamente, e parem de seguir por esse caminho errado”, disse em janeiro a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning.
Para Beijing, a aliança militar entre Estados Unidos e Filipinas reforça tensões na região, especialmente no contexto das disputas territoriais no Mar da China Meridional. O tratado de segurança entre Manila e Washington prevê assistência mútua em caso de ataque a qualquer um dos países. Ainda não está claro se as Filipinas permitirão testes reais do Typhon em seu território no futuro.
Por que isso importa?
Filipinas e China travam uma disputa territorial por grandes extensões do Mar da China Meridional, uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.
A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania na área.
No caso específico da relação entre Beijing e Manila, a disputa inicial ocorreu no atol de Scarborough Shoal, hoje sob controle chinês. Mas esse não foi o principal palco de desentendimentos. A situação tornou-se particularmente tensa um pouco mais ao sul, em Second Thomas Shoal, onde as Filipinas usam um navio encalhado, o Sierra Madre, como base militar improvisada para fazer valer suas reivindicações.
Embora Second Thomas Shoal esteja na zona econômica exclusiva (ZEE) filipina, a China o reivindica como parte do seu território e exige que o navio encalhado seja removido. Como os pedidos não são atendidos, passou a assediar as missões que levam suprimentos aos militares estacionados ali, a ponto de os EUA terem oferecido escolta armada ao aliado.
Mais recentemente, Beijing adotou estratégia semelhante em Sabina Shoal, com navios de sua Marinha e Guarda Costeira assediando embarcações das Filipinas, que por sua vez acusam Beijing de realizar ações ilegais para assumir o controle da área.