Sri Lanka proíbe ancoragem de navio de pesquisa e impõe derrota diplomática à China

Governo cingalês atendeu a um pedido da Índia, que alegou ameaça à segurança nacional devido à suspeita de espionagem

Entre 2022 e 2023, China e Índia travaram uma queda de braço diplomática envolvendo o Sri Lanka, que em duas ocasiões pendeu para o lado chinês e autorizou supostos navios de pesquisa a ancorarem em portos cingaleses. O debate foi retomado recentemente, agora com vitória de Nova Délhi, e uma terceira embarcação chinesa foi proibida de estacionar. As informações são do jornal Hindustan Times.

A China pleiteava uma autorização para que o Xiang Yang Hong 3 ancorasse no Sri Lanka e ali operasse livremente entre janeiro e maio, sob o argumento de realizar pesquisas oceânicas em alta profundidade. A Índia, entretanto, se opunha à ideia, sob o argumento de preservar a segurança nacional. E venceu.

O navio chinês Yuan Wang 6 em Papeete, Polinésia Francesa, dezembro de 2011 (Foto: WikiCommons)

A questão vinha sendo debatida entre o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o presidente cingalês Ranil Wickremesinghe desde julho do ano passado, na esteira de dois incidentes semelhantes.

Primeiro, em agosto de 2022, o navio Yuan Wang 5 foi autorizado a parar no porto de Hambantota, apesar dos protestos indianos em contrário. Depois, entre outubro e dezembro de 2023, um segundo navio chinês, o Shi Yan 6, foi autorizado a ancorar no porto de Colombo, o maior do Sri Lanka.

Nas duas ocasiões, Nova Délhi manifestou o temor de que os navios seriam usados na verdade para espionar as atividades militares indianas. Analistas de segurança endossaram tais suspeitas, dizendo que as embarcações são utilizadas para rastreamento espacial, sendo capazes de monitorar lançamentos de satélites, foguetes e mísseis balísticos intercontinentais.

Os EUA concordaram com as alegações indianas e se uniram a Nova Délhi, argumentando que os navios de pesquisa na verdade servem ao Exército de Libertação Popular (ELP) da China.

Diferente do que ocorreu nos últimos dois anos, as solicitações indianas e norte-americanas agora foram atendidas pelo Sri Lanka, que proibiu por um ano embarcações de pesquisa chinesas de ancorarem em seus portos ou mesmo de atuarem dentro da zona econômica exclusiva (ZEE) do país, que se estende a até 200 milhas náuticas da costa.

A presença militar chinesa no Sri Lanka remete a 2014, quando Colombo concedeu permissão a um submarino chinês nuclear para atracar em um de seus portos. Desde então, tais episódios tornaram-se frequentes.

Segundo o Hindustan Times, 48 navios de investigação científica chineses transitaram pela região do Oceano Índico desde 2019. Somente em 2023, Nova Délhi diz ter identificado 25 embarcações na área, incluindo navios de guerra do ELP.

Por que isso importa?

China e Índia vêm travando uma disputa por influência no Sri Lanka, e o porto de Hambantota marcou uma importante vitória de Beijing. Ele foi construído dentro da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), iniciativa lançada pelo presidente Xi Jinping para financiar obras de infraestrutura no exterior, e hoje é controlado pelo governo chinês.

Como o Sri Lanka não conseguiu pagar as parcelas devidas pela construção do porto, a China ativou uma cláusula contratual e assumiu o controle das instalações. Desde então, passou a usar a boa relação com o governo cingalês para obter acesso a seus navios de pesquisa, mas Nova Délhi argumenta que por trás disso há interesses militares que ameaçam a segurança indiana.

O temor da Índia está atrelado à capacidade de rastreamento dos navios de pesquisa, que podem usar as visitas para coletar informações sobre as usinas nucleares indianas de Kalpakkam e Koodankulam. Seriam também capazes de rastrear o sistema de mísseis e satélites da Índia, dando à China uma vantagem estratégica em um eventual conflito.

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