Taiwan encara ameaça de invasão chinesa com relativa calma entre seus cidadãos

Apesar das tensões crescentes com Beijing, população da ilha se diz 'acostumada', e há quem aposte que um ataque não acontecerá

Beijing considera Taiwan um território rebelde, e a reivindicação de independência da ilha, na visão do governo chinês, justificaria uma invasão. Mesmo diante de tal cenário de tensão geopolítica, a população parece não se deixar afetar, e há no território taiwanês quem acredite que uma invasão está fora de cogitação. Entre os analistas, porém, o otimismo é pequeno, e eles indicam que um ataque ocorrerá mais cedo ou mais tarde. É o que mostra reportagem da rede CBC.

Mesmo com os frequentes exercícios militares da China direcionados a Taiwan e sua reiterada ameaça de reunificação à força, muitos taiwaneses não demonstram preocupação.

“Eu não acho que eles vão realmente fazer isso”, disse Yu-ze Wu, de 16 anos. “Estamos acostumados com as ameaças da China.”

Estudantes taiwanesas fazem apresentação musical na badalada rua Ximending (Foto: WikiCommons)

Taiwan é autogovernada desde 1949, quando o governo da República da China (ROC), administrado pelo Partido Nacionalista da China, conhecido como Kuomintang (KMT), se refugiou na ilha após perder a Guerra Civil Chinesa para o Partido Comunista Chinês (PCC). A ROC manteve sua soberania e estruturas governamentais em Taiwan, enquanto o governo comunista estabeleceu a República Popular da China (RPC) no continente. Desde então, a ilha tem seu próprio governo e sistema político, operando independentemente da RPC, embora Beijing reivindique Taiwan como parte de seu território.

Desde então, todos os líderes chineses afirmaram ter um plano militar formal para recuperar Taiwan. E isso é algo que nunca se concretizou, gerando incertezas.

No entanto, a China tem aumentado significativamente seu poder militar nos últimos anos, possuindo agora a maior marinha do mundo e o exército com mais soldados na ativa no mundo. Seu líder, Xi Jinping, tornou a reunificação com Taiwan uma prioridade fundamental.

Em 2022, no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), o presidente chinês Xi Jinping deixou clara a possibilidade de um ataque. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

O KMT, embora tenha históricos laços com a China, defende a manutenção da autonomia da ilha e não busca uma reunificação com o continente sob o governo da RPC. Apesar disso, busca manter uma relação pacífica com o PCC, evitando conflitos ou tensões com Beijing.

Não está claro se a China poderá invadir Taiwan ou quando isso viria a ocorrer. Mas as avaliações das autoridades dos Estados Unidos variam entre 2024 e 2035. Para o secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido.”

Uma avaliação plausível foi conduzida pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um think tank sediado em Washington, que realizou uma simulação computacional com base em dados para representar uma possível invasão anfíbia chinesa em Taiwan.

Nessa simulação de guerra, foi considerado um ataque em 2026, segundo o qual “os Estados Unidos, Taiwan e o Japão conseguiriam repelir uma invasão anfíbia convencional da China e manteriam a autonomia de Taiwan.”

A simulação apontou que o custo de um conflito entre China e Taiwan seria significativo para todas as partes envolvidas. Nesse cenário:

  1. Pelo menos dois porta-aviões norte-americanos seriam afundados no Oceano Pacífico, juntamente com dezenas de navios dos EUA e de seus aliados.
  2. Dezenas de milhares de soldados americanos perderiam a vida.
  3. A marinha chinesa enfrentaria um estado de desordem, e o Partido Comunista Chinês sofreria instabilidade interna.

A conclusão do CSIS é que “os Estados Unidos devem fortalecer a dissuasão imediatamente”. Este fortalecimento das capacidades de dissuasão está em andamento.

Assédio militar

Enquanto a população civil demonstra pouco receio, o Ministério da Defesa de Taiwan tem uma visão diferente e pediu à China que interrompa seu “assédio militar” à ilha autônoma. Isso aconteceu após a recente detecção em seu espaço aéreo de mais de cem aeronaves militares chinesas, em uma série de manobras destinadas a reforçar a reivindicação de soberania de Beijing, mostrou a agência Al Jazeera.

O ministério relatou ter avistado 103 aeronaves militares chinesas, incluindo caças, desde domingo passado (17), um número considerado elevado. Além disso, identificou nove navios da Marinha chinesa na região.

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