TPI rejeita tentativa das Filipinas de bloquear investigação sobre assassinatos na ‘guerra às drogas’

Ofensiva contra os narcóticos liderada pelo ex-presidente filipino Rodrigo Duterte resultou em milhares de mortes entre 2016 e 2019

Na terça-feira (18), juízes de apelação do Tribunal Penal Internacional (TPI) autorizaram a retomada das investigações a respeito da sangrenta “guerra às drogas” nas Filipinas, coordenada pelo ex-presidente Rodrigo Duterte. A resolução ocorreu apesar das objeções de Manila, que não queria que o caso fosse levado ao tribunal global. As informações são da agência Associated Press.

No final de 2021, a investigação do tribunal foi suspensa quando as Filipinas afirmaram que já estavam conduzindo apurações sobre as mesmas alegações. Eles argumentaram que, sendo um tribunal de última instância, o TPI não tinha jurisdição sobre o assunto.

Em janeiro, os juízes concordaram com o promotor-chefe do tribunal, Karim Khan, de que entregar a investigação a Manila “não era justificado”. As Filipinas decidiram apelar dessa decisão. Na ocasião, os juízes determinaram que o processo doméstico não demonstrava “etapas investigativas tangíveis, concretas e progressivas” que refletissem adequadamente a apuração conduzida pelo tribunal.

O ex-presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, em visita à capital da Coreia do Sul, Seoul, em junho de 2018 (Foto: Korean Culture and Information Service/Jeon Han)

Durante a audiência na terça, o juiz-presidente Marc Perrin de Brichambaut anunciou que o painel de apelação composto por cinco juízes decidiu, por maioria, rejeitar o recurso apresentado pelas Filipinas.

Quando Duterte assumiu o cargo em 2016 e lançou sua controversa guerra ao narcotráfico, mais de seis mil pessoas foram mortas em operações antidrogas nos anos seguintes, de acordo com dados da polícia.

Forças sob o comando do ex-presidente foram apontadas como responsáveis por homicídio, tortura e outros “atos desumanos” na campanha de tolerância zero contra as drogas. Os crimes teriam sido cometidos entre julho de 2016 e março de 2019.

Muitas execuções extrajudiciais de supostos infratores da legislação antidrogas aconteceram nas regiões mais empobrecidas do país, e especialistas independentes acreditam que o número de mortos pode ser ainda maior.

Kristina Conti, advogada que representa algumas das famílias das vítimas, manifestou a esperança de que uma decisão favorável do TPI viesse a marcar uma mudança significativa na luta contra a impunidade nas Filipinas.

“As vítimas da ‘guerra às drogas’ de Duterte estão, como sempre, rezando por uma justiça genuína que não está disponível para os pobres, oprimidos e impotentes nas Filipinas. Esperamos que a Câmara de Apelações do TPI seja justa e sábia em sua decisão, que seja esclarecida e compassiva”, disse ela na segunda-feira (17), antes do anúncio.

Governo rejeitou investigação

A administração de Duterte e seu sucessor, Ferdinand Marcos Jr., rejeitaram a investigação do TPI sobre os assassinatos relacionados à guerra das drogas nas Filipinas, alegando que as investigações são injustas.

Embora as Filipinas tenham sido anteriormente signatárias do TPI, Duterte cancelou a adesão do país quando o tribunal iniciou a investigação sobre a guerra contra as drogas.

No entanto, de acordo com o mecanismo de retirada do TPI, o tribunal mantém jurisdição sobre crimes cometidos durante o período em que o país era um membro oficial, que vai de 2016 a 2019, quando a retirada das Filipinas se tornou efetiva.

Marcos Jr., que sucedeu Duterte no ano passado, afirmou que o país irá se distanciar completamente do TPI, não reconhecendo sua autoridade em questões de soberania nacional. A decisão está em desacordo com os anseios dos ativistas de direitos humanos.

Bryony Lau, vice-diretor da Human Rights Watch (HRW) para a Ásia, disse que a decisão da Câmara de Apelações do TPI rejeita as alegações feitas pelo governo filipino de que o TPI não deveria realizar investigações no país.

“É crucial que o presidente Marcos apoie seu compromisso declarado com os direitos humanos e coopere plenamente com o inquérito conduzido pelo procurador do TPI”, disse ele

Tags: