ONU: Covid-19 prejudica avanço em cobertura de merenda escolar no mundo

Cobertura da merenda escolar caiu 9% entre 2013 e 2020 em todo o mundo; nos países pobres, redução foi de 36%

Este conteúdo foi publicado originalmente pelo portal ONU News, da Organização das Nações Unidas

Antes da pandemia de Covid-19, metade das crianças em idade escolar, ou 388 milhões em todo o mundo, estava recebendo merenda no colégio, o maior número da história. Agora este número está em risco.

A informação está no relatório Estado Mundial das Merendas Escolares, publicado nesta quarta-feira (24) pelo Programa Mundial de Alimentos. Segundo a pesquisa, entre 2013 e 2020, o número de alunos recebendo merenda cresceu 9% globalmente e 36% em países de baixa renda.

Em poucas semanas, porém, com o início da pandemia, essa situação mudou. Em abril de 2020, 199 países fecharam escolas e 370 milhões de crianças acabaram sem o benefício. Para muitas, a merenda era a única refeição do dia

ONU: Covid-19 ameaça avanços históricos em cobertura de merenda escolar no mundo
Estudantes recebendo merenda no Uganda durante pandemia (Foto: Unicef/Francis Emorut)

O Programa pede uma ação global para restabelecer a cobertura anterior à pandemia e expandir o serviço. O objetivo é alcançar 73 milhões de crianças vulneráveis ​​que já estavam perdendo as refeições. 

Em comunicado, o diretor executivo da agência, David Beasley, lembrou que, muitas vezes, a merenda é a única razão para as crianças frequentarem a escola. “Esse apoio é também um poderoso incentivo para garantir que elas voltem após o fim da pandemia”, pontuou.

No próximo ano, o Programa quer formar uma coalizão para apoiar os governos na ampliação dos programas de alimentação escolar, trabalhando com agências de desenvolvimento, doadores, o setor privado e organizações da sociedade civil. 

Lusófonos 

O relatório também menciona os países lusófonos. Angola, por exemplo, teve um grande crescimento na merenda escolar. Em 2013, 221 crianças contavam com alimentação na escola. Até 2020, o alcance chega a 1,5 milhão de menores – 27% dos alunos do país.

Já no Brasil o número caiu de 47,271 milhões para 40,197, mas o país manteve uma cobertura de 100%. Segundo a pesquisa, a redução ocorre por mudanças demográficas, com menos 4,2 milhões de crianças entre os 4 e 14 anos, e diferenças na mensuração.  

Junto com a China, o Brasil tem o segundo maior programa de merenda escolar do mundo, atrás apenas da Índia, seguidos por Estados Unidos e Egito. 

Cabo Verde, por sua vez, passou de 86 mil crianças para apenas 3 mil, ficando com uma taxa de cobertura de 5%. Guiné-Bissau não relata sua taxa de cobertura, mas registou um aumento de 126 mil crianças abrangidas para 178 mil.  

Em Moçambique, o número de beneficiários passou de 427 mil em 2013 para 200 mil em 2020, cobrindo 3% dos alunos. Portugal manteve uma taxa de cobertura de 100%, passando de 1,615 milhão para 1,317 milhão. 

Por fim, São Tomé e Príncipe também chega a quase todos os alunos, cerca de 99%, tendo passado de 40 mil crianças para 47 mil.  

ONU: Covid-19 ameaça avanços históricos em cobertura de merenda escolar no mundo
Crianças recebem merenda escolar em escola no interior de Moçambique, maio de 2016 (Foto: Unicef/Rich)

Meninas 

Estudos demonstram que, na vida de uma criança de família pobre, a merenda escolar pode ter um grande impacto, evitando a fome, apoiando saúde a longo prazo e facilitando o aprendizado. 

Em escolas que oferecem merenda, as meninas tendem a permanecer mais tempo no ensino, as taxas de casamento infantil caem e a gravidez na adolescência diminui. 

Quando usam alimentos produzidos localmente, os programas de merenda escolar também podem impulsionar a economia. Eles geram uma demanda por alimentos mais diversificados e nutritivos e criam mercados estáveis, apoiando a agricultura local e fortalecendo os sistemas alimentares locais. 

Programas de merenda escolar eficientes levam a retornos de até US$ 9 para cada US$ 1 investido. De acordo com o PMA, também criam empregos. Cerca de 1.668 novos postos de trabalho são criados para cada 100 mil crianças alimentadas. 

O chefe do PMA disse que a agência “está totalmente empenhada em cooperar com parceiros para garantir que nenhuma criança, independentemente de onde viva, vá para a escola com fome ou não vá à escola.” 

“Após a turbulência dos últimos meses, deve se aproveitar a oportunidade para começar a construir o mundo melhor que todos querem ver”, disse Beasley.

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