Ucranianas e belarussas em Salvador realizam protesto contra a guerra

Manifestantes exibiram bandeiras ucranianas e guarda-chuvas que viraram símbolo de protesto contra a repressão em Belarus

Um grupo de mulheres ucranianas e belarussas realizou no últimos sábado (14) um protesto no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, contra a guerra na Ucrânia, iniciada pela invasão de tropas da Rússia no dia 24 de fevereiro. Elas exibiram bandeiras ucranianas, guarda-chuvas em branco e vermelho e um bandeira nessas mesmas cores, que é usada pelos dissidentes de Belarus em todo o mundo.

“O mundo inteiro apoia a Ucrânia na luta contra os invasores russos”, disse Volha Yermalayeva Franco, representante no Brasil da Embaixada Popular de Belarus, grupo que faz oposição ao presidente Alexander Lukashenko e apoia dissidentes em todo o mundo. “A luta das belarussas contra a ditadura de muitos anos também é conhecida, mesmo em um país tão distante quanto o Brasil”.

Manifestações de mulheres belarussas com os guarda-chuvas em vermelho e branco começaram no final de agosto de 2020, em Minsk, capital do país. Esta é uma das formas de protesto pacífico contra Lukashenko e a violência policial em Belarus.

Protesto de belarussas e ucranianas no bairro do Rio Vermelho, em Salvador (Foto: deivulgação)

O vermelho e o branco são as cores da bandeira usada por nacionalistas belarussos por breves períodos ao longo do século 20, até ser substituída definitivamente pela bandeira vermelha e verde, que sofreu algumas mudanças até a versão atual.

Devido à adoção do alvirrubro pelos dissidentes, o simples fato de usar roupas nessas cores tem levado a detenções em Belarus. É o caso de, Natalia Sivtsova-Sedushkina, detida em maio de 2021 por usar uma meia branca com listras vermelhas, segundo a rede britânica BBC. Ela foi multada em 2,3 mil rublos (R$ 3,45 mil, em valores atuais), e a loja onde comprou as meias tirou o artigo de seu catálogo.

Aliança militar

Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e de Belarus, Alexander Lukashenko, são fortes aliados. Apesar de o exército belarusso não ter tomado parte diretamente na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro, as tropas russas aproveitaram a proximidade entre os dois governos e usaram o território belarusso para invadir a Ucrânia.

A aliança entre as nações é tão forte que o futuro de Minsk está diretamente atrelado ao destino de Moscou na guerra que começou em 24 de fevereiro. A afirmação foi feita pelo ex-diplomata canadense Chris Alexander, que já ocupou o cargo de vice-chefe de missão do Canadá em Moscou e publicou no think tank Atlantic Council um artigo de opinião sobre os desdobramentos da guerra.

“A derrota da Rússia traria enormes benefícios a Belarus, onde o vassalo do Kremlin Alexander Lukashenko se agarra ao poder graças em grande parte ao patrocínio de Putin. Uma vitória ucraniana daria ao movimento democrático belarusso, agora principalmente no exílio, uma nova tração”, diz Alexander. “Provavelmente seria apenas uma questão de tempo até que o ditador deflacionado do país perdesse o poder, abrindo caminho para o surgimento de uma Belarus europeia”.

Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições de 2020.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos começaram, após o controverso pleito, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente, como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. Ativistas de direitos humanos dizem que há atualmente mais de 800 prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como Lukashenko lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

No final de 2021, Belarus passou a sofrer acusações também da União Europeia (UE), por patrocinar a tentativa de migrantes e deslocados ingressarem no bloco. São expatriados do Oriente Médio, do Sudeste Asiático e da África que tentam cruzar as fronteiras com Polônia, Lituânia e Estônia.

As autoridades belarussas negam as acusações e direcionam ataques à UE, usando como argumento o fato de que Bruxelas não estaria oferecendo passagem segura aos migrantes, que estariam enfrentando um frio congelante enquanto os países medem forças.

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