Taleban proíbe Dia dos Namorados e quebra lojas que citavam a data no Afeganistão

Fiscais do grupo radical fecham centros de compras em Cabul, destroem decoração de lojas dizem que a data é "proibida" no país

O Taleban obrigou o fechamento de algumas lojas em Cabul, na segunda-feira (14), e destruiu outros estabelecimentos que estavam decorados para o Valentine’s Day (Dia dos Namorados), celebrado em 14 de fevereiro nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. As informações são do site La Prensa Latina.

“Hoje preparamos nossas lojas dentro do mercado para o Dia dos Namorados, para atrair clientes. O dia começou com uma correria de casais e jovens, mas as forças de segurança do Taleban vieram e fecharam o portão principal do nosso mercado”, afirmou um lojista do centro de compras Parque, identificado apenas como Naseeb.

Um dos principais alvos da fiscalização talibã foi o mercado Koche Golfroshi, que recebeu uma patrulha do Ministério Para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício. Segundo um lojista local que não quis se identificar, um integrante do ministério “visitou todas as lojas e nos disse para não seguirmos essa cultura proibida que é imposta por países estrangeiros”.

Shopping Center de Cabul em 2009 (Foto: Wikimedia Commons)

As forças de segurança talibãs também destruíram algumas lojas decoradas na área de Kart-e-Se e não permitiram que os cidadãos tivessem acesso ao local. Um oficial destacado para guardar a porta principal do Parque disse que, “de manhã, muitas garotas precipitadas vêm sem véu para celebrar este dia proibido. Nós viemos aqui para não permitir as pessoas dentro do mercado”.

Pari, uma jovem afegã que se frustrou com as portas fechadas, contestou o argumento do Taleban. “Este é apenas um motivo para celebrar a felicidade da vida, mostrar nosso amor um pelo outro e nos fazer felizes, o que não significa que estamos acrescentando algo à nossa religião e cultura”, disse ela.

Antes de o Taleban assumir o poder no Afeganistão, a data era celebrada livremente no país, embora não faça parte do calendário islâmico.

Por que isso importa?

Desde que assumiu o poder, no dia 15 de agosto de 2021, o Taleban busca reconhecimento internacional como governo de fato do que chama de “Emirado Islâmico“. O grupo chegou a se reunir com autoridades da ONU (Organização das Nações Unidas) a fim de garantir que a assistência humanitária seja mantida no país, como forma demostrar sua boa vontade. Mas não passou disso.

O país continua marginalizado da comunidade internacional em razão principalmente das acusações de abusos dos direitos humanos e da forte repressão, sobretudo contra mulheres. Tanto que, até agora, nenhuma nação reconheceu formalmente o Taleban como poder legítimo no país, apesar da aproximação com países como China e Paquistão.

Mais que legitimar os talibãs internacionalmente, o reconhecimento fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza. Em meio à crise profunda que os afegãos enfrentam, os Estados Unidos liberaram para ajuda humanitária., em fevereiro de 2022, US$ 3,5 bilhões em ativos congelados do Banco Central do Afeganistão em solo norte-americano.

Quando o governo afegão se dissolveu, com altos funcionários deixando o país, incluindo o presidente e o governador interino do banco central, deixou para trás pouco mais de US$ 7 bilhões em ativos depositados no Federal Reserve Bank dos EUA. Como não estava mais claro quem tinha autoridade legal para obter acesso a essa conta, o Fed tornou os fundos indisponíveis para saque.

Washington congelou os fundos afegãos mantidos nos EUA após o grupo islâmico ascender ao poder, em agosto do ano passado. Ultimamente, o governo Biden vinha sendo pressionado a disponibilizar o dinheiro sem reconhecer o regime do Taleban, que alega ser o dono do dinheiro. O valor, então, acabou liberado, com a outra metade destinada a pagar indenizações às vítimas dos ataques de 11 de setembro.

O Afeganistão tem mais US$ 2 bilhões em reservas, depositados em países como Reino Unido, Alemanha, Suíça e Emirados Árabes Unidos. A maioria desses fundos também está congelada. Autoridades norte-americanas relataram ter entrado em contato com aliados para detalhar sua iniciativa, mas Washington foi o primeiro a oferecer um plano sobre como usar os ativos congelados para auxiliar o povo afegão.

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