Brasil adota posicionamento semelhante ao de China e Irã e silencia sobre a morte de Navalny

Presidente Lula alega 'bom senso' ao justificar por que a diplomacia brasileira não fez qualquer menção ao caso do maior rival político de Putin

Três dias se passaram desde que Alexei Navalny, político e ativista russo, morreu de forma suspeita em uma gelada prisão no Ártico. Desde então, a diplomacia brasileira não fez uma manifestação oficial a respeito, distanciando-se assim de nações ocidentais que não apenas ofereceram suas condolências, mas também sugeriram o envolvimento do Kremlin na morte.

No site do Ministério das Relações Exteriores, onde mensagens do gênero habitualmente são publicadas, não há qualquer menção a Navalny. Um posicionamento que se assemelha ao de Irã e China, os dois mais importantes aliados militares de Moscou atualmente.

O presidente Lula tocou no assunto durante viagem à Etiópia e deu a entender que a diplomacia brasileira manterá o silêncio. Questionado em uma entrevista coletiva, ele explicou a posição e inclusive fez referência às acusações que pesam contra Moscou de envolvimento no caso, pelo fato de o ativista ser o principal opositor do presidente Vladimir Putin.

Alexei Navalny, oposicionista do presidente Vladimir Putin, morto aos 47 anos (Foto: reprodução/Instagram)

“Por uma questão de bom senso”, disse Lula ao justificar o silêncio do Itamaraty. “Se a morte está sob suspeita, nós temos que primeiro fazer uma investigação pra saber do que o cidadão morreu. Vamos acreditar que os médios legistas vão dizer que o cara morreu disso ou daquilo pra você poder fazer um pré-julgamento. Porque senão você julga agora que foi não sei quem que mandou matar e não foi. E depois você vai pedir desculpa?”

A Agência Brasil, veículo público pertencente à Empresa Brasil de Comunicação, limitou-se a noticiar a morte de Navalny reproduzindo conteúdo da Reuters.

Quem seguiu caminho semelhante foi o Irã. De acordo com o site Iran International, com sede em Londres, a agência estatal IRNA apenas noticiou “a posição oficial da Rússia, as reações da comunidade internacional e os relatos de detenções efetuadas durante as vigílias.” No site em inglês da IRNA, entretanto, não há qualquer notícia acessível pelas buscas que cite a morte de Navalny.

A China também optou pelo silêncio sobre a morte de Navalny. O Ministério das Relações Exteriores chinês, questionado sobre a questão, se recusou a comentar e respondeu através de um porta-voz que “este é um assunto interno da Rússia”, segundo a rede Voice of America (VOA).

Acusações contra o Kremlin

Os aliados ocidentais, ao contrário, não apenas ofereceram condolências pela morte de Navalny. Também jogaram a culpa em Moscou. O presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou que “Putin é responsável pela morte de Navalny“, conforme relatou o jornal The New York Time. Já o secretário de Estado, Antony Blinken, disse que a morte do ativista expõe “a fraqueza e a corrupção do sistema de Putin.”

A porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), Liz Throssell, também comentou a notícia. “Se alguém morre sob custódia do Estado, a presunção é a de que o Estado é responsável. Uma responsabilidade que só pode ser refutada através de uma investigação imparcial, completa e transparente realizada por um órgão independente”, disse ela

Já o chanceler alemão, Olaf Scholz, usou a rede social X, antigo Twitter, para destacar o ativismo de Navalny pela democracia e a liberdade na Rússia. Disse que ele “aparentemente pagou pela sua coragem com a vida”. E concluiu: “Esta terrível notícia mostra mais uma vez como a Rússia mudou e que tipo de regime está no poder em Moscou.”

Através da mesma rede social, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que, “na Rússia de hoje, os espíritos livres são colocados no gulag e condenados à morte.” Ele falou em “raiva e indignação” devido ao ocorrido e saudou o “empenho” e a “coragem” de Navalny, enviando seus “pensamentos” à família dele e ao povo russo.

A União Europeia (UE) também responsabilizou o Kremlin. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, expressou no X que Navalny fez o “derradeiro sacrifício por seus ideais” e que o o bloco vê o regime russo como único responsável por essa morte trágica.

O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak não citou Moscou em seus comentários, dizendo apenas que a morte de Navalny é uma “notícia terrível”. E acrescentou: “Sendo o mais feroz defensor da democracia russa, Alexei Navalny demonstrou uma coragem incrível ao longo da sua vida.”

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