Alemanha detém adolescentes que planejavam realizar ataque e se unir ao Estado Islâmico

Um dos jovens foi à internet dizer que usaria gasolina para explodir um caminhão em um mercado de Natal de Leverkusen

Dois adolescentes, um de 15 e outro de 16 anos, foram presos na Alemanha na quarta-feira (29) sob acusações ligadas ao terrorismo. Eles são suspeitos de planejar um ataque a um mercado de Natal na cidade de Leverkusen em nome do Estado Islâmico (EI). As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

De acordo com as autoridades, um dos jovens manifestou em um grupo de bate-papo na internet a intenção de realizar o ataque. Para tanto, ele disse que teria comprado gasolina para explodir um caminhão.

Depois do planejado ataque, os jovens também pretendiam deixar o país para se juntar ao Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), ramificação da organização extremista que atua sobretudo no Afeganistão, onde é o principal desafio de segurança enfrentado atualmente pelo Taleban.

Apesar das alegações do jovem, a polícia informou que não encontrou combustível armazenado na casa dele, que foi alvo de uma busca. Equipamentos eletrônicos foram levados para auxiliar nas investigações. Os dois menores de idade não foram identificados, em respeito à legislação de privacidade do país.

Nas últimas semanas, a Alemanha tem ampliado a vigilância para eventuais ataques terroristas, após o país identificar um risco elevado desde que teve início a guerra do Oriente Médio, em 7 de outubro, com o ataque do Hamas a Israel.

Agentes de polícia da Alemanha: combate ao terrorismo (Foto: Creative Commons)
Europa em alerta

As detenções dos dois adolescentes surgem, ainda, na esteira de um atentado que matou dois cidadãos suecos no dia 16 de outubro em Bruxelas, na Bélgica O autor daquele ataque foi um tunisiano que vivia ilegalmente no país e que alegou ter cometido o ato em nome do EI, que confirmou a filiação.

O agressor, Abdesalem Lassoued, mais tarde morto pela polícia belga, disse que agiu motivado pelo sentimento de vingança devido aos episódios de queima do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, ocorridos recentemente na Suécia. Por isso os alvos dele foram cidadãos suecos, que visitavam a Bélgica por conta de uma partida de futebol.

Mais recentemente, em novembro, Bruxelas entrou em alerta novamente após uma ameaça de bomba que levou ao fechamento por um dia de 27 escolas. Viena, na Áustria, viveu situação semelhante no início do mês passado, com diversas escolas evacuadas devido a uma ameaça de bomba em nome do EI.

França também foi palco de um atentado e de uma série de ameaças de bomba que fecharam o Palácio de Versalhes, o Museu do Louvre e diversos aeroportos. Em 13 de outubro, um jovem de 20 anos usou uma faca para assassinar uma professora em Arras, cidade do norte da França. Em vídeo gravado antes do ataque, ele fez breve referência ao conflito no Oriente Médio e disse agir em nome do EI.

Tais ocorrências evidenciam o aumento da ameaça terrorista na Europa, que estava em alerta desde agosto justamente devido aos protestos na Suécia. Os Estados Unidos e o Reino Unido chegaram a alertar seus cidadãos para o perigo terrorista particularmente no país escandinavo, que por sua vez elevou ao segundo nível mais alto seu alerta nacional.

Por conta dos atentados, o presidente Emmanuel Macron chegou a dizer que “todos os Estados europeus são vulneráveis, ​e há de fato um ressurgimento do terrorismo islâmico.”

Terrorismo no Brasil

O Brasil vive igualmente momento atípico de apreensão terrorista. Episódios recentes mostram que o país é visto como porto seguro pelos extremistas e também como possível alvo de ataques.

Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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