A Polônia parece ter perdido a paciência com a Hungria, cada vez mais afastada de seus aliados ocidentais em favor das boas relações com a Rússia. No domingo (28), segundo a Agência Polish Press (PAP), o vice-ministro das Relações Exteriores polonês, Wladyslaw Teofil Bartoszewski, sugeriu que Budapeste deixe a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a União Europeia (UE).
Bartoszewski reagiu às duras declarações do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, contra a Polônia. No sábado (27), o autoritário líder húngaro disse que Varsóvia segue comprando petróleo russo enquanto se posiciona ao lado da Ucrânia na guerra e critica quem faz negócios com os russos.
“Os poloneses estão conduzindo políticas hipócritas. Eles nos criticam por nossas relações com os russos, mas eles mesmos conduzem negócios com a Rússia por meio de intermediários. Nunca vi tamanha hipocrisia por parte do Estado”, disse Orbán, citado pela Radio Europa Libera Romania.
A autoridade polonesa contestou a alegação. “Não fazemos negócios com a Rússia, ao contrário do primeiro-ministro Orbán, que está à margem da sociedade internacional, tanto na União Europeia quanto na Otan”, disse Bartoszewski.
E sugeriu, então, que Budapeste busque outras alianças formais. “Eu realmente não entendo por que a Hungria quer continuar sendo membro de organizações das quais não gosta tanto e que supostamente a tratam tão mal”, continuou. “Por que não criam uma união com Putin e alguns Estados autoritários desse tipo? É assim: se você não quer ser membro de um clube, você sempre pode sair.”
Nas críticas a Orbán, Bartoszewski citou a mais recente ação que evidencia o distanciamento cada vez maior do país em relação a seus aliados. Na semana passada, a Hungria anunciou que manterá o veto a um reembolso que deveria ser pago a países da UE que forneceram munição à Ucrânia, sob o argumento de que Kiev também bloqueou a passagem de petróleo russo por seu território.
O dinheiro bloqueado por Budapeste é proveniente do Fundo Europeu de Apoio à Paz (EPF, na sigla em inglês), criado em 2021 para reembolsar países que forneçam munição a nações aliadas. Porém, há mais de um ano os pagamentos estão parados por decisão de Orbán, sob vários argumentos. O mais recente é o de que o corte no fornecimento de petróleo proveniente da Rússia prejudica os húngaros.
Por que isso importa?
Polônia e Hungria têm posicionamentos antagônicos quanto à guerra. Enquanto Varsóvia é um dos mais fortes apoiadores da Ucrânia, Budapeste é o aliado mais importante de Moscou na Europa e age sempre que possível para comprometer o apoio a Kiev.
A Rússia se beneficia das decisões de Orbán, que colaborou com o regime de Vladimir Putin ao atrasar um pacote de ajuda financeira à Ucrânia. O premiê resistiu o quanto pôde, mas acabou cedendo no final de janeiro, quando Budapeste finalmente retirou o veto que impedia a entrega de 50 bilhões de euros a Kiev.