Belarus culpa a Ucrânia por míssil derrubado na fronteira e fala em ‘provocação’

Ministério da Defesa belarusso disse que Minsk não descarta a possibilidade de uma provocação deliberada de Kiev

Belarus culpou a Ucrânia por um míssil derrubado na fronteira entre os países nesta sexta-feira (30), aumentando a turbulência na região. Para Minsk, o incidente, registrado na quinta (29), seria uma “provocação” das forças armadas ucranianas à nação que é aliada de primeira ordem do presidente russo Vladimir Putin. As informações são da revista Newsweek.

Segundo comunicado do Ministério da Defesa belarusso, um míssil S-300 foi derrubado entre 10h e 11h (horário local) pelas defesas aéreas do país a cerca de 15 quilômetros da fronteira norte da Ucrânia, perto da cidade de Gorbaja, na região de Brest.

O órgão governamental disse que fragmentos do míssil foram encontrados em uma área rural e que, durante o processo de verificação, “foi estabelecido que os destroços pertencem a um míssil antiaéreo S-300 disparado do território da Ucrânia”.

Exercício das forças belarussa na cidade de Vitebsk (Foto: WikiCommons)

À agência de notícias Belta, o coronel Kirill Kazantsev, chefe do Departamento de Forças de Mísseis Antiaéreos de Belarus, disse que Minsk considera que o incidente pode ter sido uma provocação deliberada de Kiev.

“Os sistemas de defesa aérea atingiram um alvo no distrito de Ivanovo, que chegou do lado ucraniano. As equipes de combate trabalharam como deveriam. No entanto, as dúvidas sobre este incidente permanecem”, disse Kazantsev.

Além de uma provocação, o chefe da pasta de Defesa não descarta outras duas possibilidades: um lançamento não intencional do míssil guiado antiaéreo devido a treinamento deficiente ou mau funcionamento do míssil.

O embaixador da Ucrânia em Belarus foi chamado no Ministério das Relações Exteriores em Minsk, onde recebeu um protesto formal.

Já o Ministério da Defesa da Ucrânia, resposta às alegações belarussas, disse que Moscou tem “aspirações desesperadas e persistentes” para envolver Belarus no conflito, e disse que o incidente ocorreu durante ataques de mísseis russos na Ucrânia.

“Nesse sentido, o lado ucraniano não exclui uma provocação deliberada do estado terrorista da Rússia, que estabeleceu tal rota para seus mísseis de cruzeiro a fim de provocar sua interceptação no espaço aéreo sobre o território de Belarus”, disse o ministério em comunicado.

Na terça-feira (27), Putin esteve em reunião na cidade de São Petersburgo com o autoritário líder belarusso, Alexander Lukashenko, enquanto tropas de ambos os países realizavam exercícios militares em Belarus. Autoridades ucranianas estão receosas de que a movimentação de tropas possa resultar em uma invasão à Ucrânia pelo norte por meio de uma força conjunta.

Minsk já declarou que não irá reforçar as tropas russas no front em território ucraniano, embora seja notório que Belarus dependa financeira e politicamente de Moscou. Desde fevereiro, Lukashenko é acusado de permitir que o chefe do Kremlin use o país como trampolim para a invasão russa. A Rússia inclusive lançou vários ataques aéreos do território belarusso à Ucrânia.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra iniciada no dia 24 de fevereiro. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que a Rússia, governada pelo aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsch Welle, em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto do ano passado, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Tamanha proximidade levou governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus nas sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto e intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia” (em tradução livre), o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições mais severas a Minsk.

“Nos últimos cinco meses, o presidente belarusso Alexander Lukashenko permitiu que o presidente russo, Vladimir Putin, usasse Belarus como palco para a invasão russa. A Rússia lançou vários ataques aéreos do território belarusso à Ucrânia”, disse ele. “Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”.

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