Em entrevista à rede suíça RTS, exibida no sábado (9), o papa Francisco afirmou que a Ucrânia deveria ter a “coragem da bandeira branca” para encerrar a guerra contra a Rússia. Nesta segunda-feira (11), a declaração foi contestada pelo chefe da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, segundo quem Kiev precisa mesmo é de mais armas. As informações são da agência Reuters.
“Se quisermos uma solução negociada, pacífica e duradoura, a maneira de chegar lá é fornecer apoio militar à Ucrânia”, disse Stoltenberg ao ser questionado sobre a manifestação do líder católico. “O que acontece em volta de uma mesa de negociações está inextricavelmente ligado à força no campo de batalha”.
Stoltenberg afirmou, ainda, que uma solução pacífica que passe pela entrega de território a Moscou seria inaceitável e está fora de cogitação. “Não é o momento para falar sobre a rendição dos ucranianos. Isso seria uma tragédia para os ucranianos. Também seria perigoso para todos“.
A declaração de Stoltenberg vai na contramão do pensamento do papa, questionado pela RTS se uma eventual rendição ucraniana neste momento “legitimaria a parte mais forte.” O líder católico, então, disse que “está é uma interpretação.” E acrescentou: “Mas acredito que o mais forte é aquele que vê a situação, que pensa no povo, que tem a coragem da bandeira branca, de negociar.”
A fala de Francisco foi questionada inclusive por Kiev. O ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, usou a rede social X, antigo Twitter, para um pronunciamento. “Nossa bandeira é amarela e azul. Esta é a bandeira pela qual vivemos, morremos e prevalecemos. Jamais hastearemos quaisquer outras bandeiras”, disse ele.
Ele ainda sugeriu ao papa que visite o país arrasado pela guerra. “Agradecemos Sua Santidade o papa Francisco pelas constantes orações pela paz e continuamos esperando que, depois de dois anos de guerra devastadora no coração da Europa, o pontífice encontre a oportunidade de fazer uma visita apostólica à Ucrânia para apoiar mais de um milhão de católicos ucranianos, mais de cinco milhões de greco-católicos, todos cristãos e todos ucranianos.”
The strongest is the one who, in the battle between good and evil, stands on the side of good rather than attempting to put them on the same footing and call it “negotiations”.
— Dmytro Kuleba (@DmytroKuleba) March 10, 2024
At the same time, when it comes to the white flag, we know this Vatican's strategy from the first half…
Alexandra Valkenburg, chefe da delegação da União Europeia (UE) junto à Santa Sé, igualmente usou o X para comentar, reproduzindo ainda uma matéria sobre a entrevista do papa. “A Rússia iniciou uma guerra ilegal e injustificada contra a Ucrânia há dois anos. A Rússia pode acabar imediatamente com esta guerra, respeitando a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. A União Europeia apoia a Ucrânia e seu plano de paz. “
O Vaticano também reagiu à polêmica desencadeada pela fala do papa, segundo a rede CNN. O diretor de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, afirmou que o líder católico não sugeriu uma rendição ao falar em “bandeira branca”, e sim a “cessação das hostilidades“, uma “trégua alcançada com a coragem da negociação.”
Segundo site Vatican News, a entrevista foi apenas parcialmente publicada pela RTS, que exibirá o conteúdo na íntegra em 20 de março. O veículo informativo, porém, revelou antecipadamente mais algumas falas do papa à rede suíça.
“As negociações nunca são uma rendição. São a coragem de não levar um país ao suicídio”, disse ele na entrevista. “Quando você vê que está derrotado, que as coisas não vão bem, é preciso ter coragem de negociar. Você pode sentir vergonha, mas com quantas mortes isso vai acabar?”