Chefe da Otan contesta o papa sobre ‘bandeira branca’ da Ucrânia: ‘Seria perigoso para todos’

Jens Stoltenberg reage a fala do líder católico sobre uma solução imediata para a guerra e diz que Kiev precisa mesmo é de apoio militar

Em entrevista à rede suíça RTS, exibida no sábado (9), o papa Francisco afirmou que a Ucrânia deveria ter a “coragem da bandeira branca” para encerrar a guerra contra a Rússia. Nesta segunda-feira (11), a declaração foi contestada pelo chefe da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, segundo quem Kiev precisa mesmo é de mais armas. As informações são da agência Reuters.

“Se quisermos uma solução negociada, pacífica e duradoura, a maneira de chegar lá é fornecer apoio militar à Ucrânia”, disse Stoltenberg ao ser questionado sobre a manifestação do líder católico. “O que acontece em volta de uma mesa de negociações está inextricavelmente ligado à força no campo de batalha”.

Stoltenberg afirmou, ainda, que uma solução pacífica que passe pela entrega de território a Moscou seria inaceitável e está fora de cogitação. “Não é o momento para falar sobre a rendição dos ucranianos. Isso seria uma tragédia para os ucranianos. Também seria perigoso para todos“.

Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, março de 2024 (Foto: NATO/Flickr)

A declaração de Stoltenberg vai na contramão do pensamento do papa, questionado pela RTS se uma eventual rendição ucraniana neste momento “legitimaria a parte mais forte.” O líder católico, então, disse que “está é uma interpretação.” E acrescentou: “Mas acredito que o mais forte é aquele que vê a situação, que pensa no povo, que tem a coragem da bandeira branca, de negociar.”

A fala de Francisco foi questionada inclusive por Kiev. O ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, usou a rede social X, antigo Twitter, para um pronunciamento. “Nossa bandeira é amarela e azul. Esta é a bandeira pela qual vivemos, morremos e prevalecemos. Jamais hastearemos quaisquer outras bandeiras”, disse ele.

Ele ainda sugeriu ao papa que visite o país arrasado pela guerra. “Agradecemos Sua Santidade o papa Francisco pelas constantes orações pela paz e continuamos esperando que, depois de dois anos de guerra devastadora no coração da Europa, o pontífice encontre a oportunidade de fazer uma visita apostólica à Ucrânia para apoiar mais de um milhão de católicos ucranianos, mais de cinco milhões de greco-católicos, todos cristãos e todos ucranianos.”

Alexandra Valkenburg, chefe da delegação da União Europeia (UE) junto à Santa Sé, igualmente usou o X para comentar, reproduzindo ainda uma matéria sobre a entrevista do papa. “A Rússia iniciou uma guerra ilegal e injustificada contra a Ucrânia há dois anos. A Rússia pode acabar imediatamente com esta guerra, respeitando a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. A União Europeia apoia a Ucrânia e seu plano de paz. “

O Vaticano também reagiu à polêmica desencadeada pela fala do papa, segundo a rede CNN. O diretor de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, afirmou que o líder católico não sugeriu uma rendição ao falar em “bandeira branca”, e sim a “cessação das hostilidades“, uma “trégua alcançada com a coragem da negociação.”

Segundo site Vatican News, a entrevista foi apenas parcialmente publicada pela RTS, que exibirá o conteúdo na íntegra em 20 de março. O veículo informativo, porém, revelou antecipadamente mais algumas falas do papa à rede suíça.

“As negociações nunca são uma rendição. São a coragem de não levar um país ao suicídio”, disse ele na entrevista. “Quando você vê que está derrotado, que as coisas não vão bem, é preciso ter coragem de negociar. Você pode sentir vergonha, mas com quantas mortes isso vai acabar?” 

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