Com carta aberta, médicos russos fazem campanha pela saúde de Navalny

Rival de Putin foi colocado na solitária pela décima vez desde agosto e tem sofrido com seguidos problemas de saúde

Na segunda-feira (9), o oposicionista russo Alexei Navalny, maior rival doméstico do presidente Vladimir Putin, contou que foi colocado em isolamento solitário pela décima vez desde agosto do ano passado. A medida levou um grupo de médicos russos a publicar uma carta aberta, acompanhada de um abaixo-assinado, exigindo “o fim do abuso” contra ele, detido na colônia penal IK-6, na região de Vladimir.

O documento, que até o fechamento desta matéria já tinha as assinaturas de 170 médicos, destaca os problemas recentes de saúde que acometeram Navalny e afirma que o governo tem recusado inclusive a entrega de medicamentos a ele. A carta foi publicada pelo site noticioso independente Meduza.io e reproduzida no Facebook.

Monitor exibe audiência virtual com Navalny, que falou de dentro da prisão (Foto: instagram.com/navalny)

“Não podemos e não temos o direito de olhar calmamente para os danos conscientes provocados à saúde do político Alexei Navalny, que acontece na colônia correcional nº 6 da FSIN (Serviço Penitenciário Federal, da sigla em russo) na região de Vladimir”, diz o documento. “As condições de detenção e a aparência de Alexei Navalny nos preocupam muito quanto à vida e saúde dele“.

Navalny diz que foi enviado para a solitária pouco antes da virada do ano porque lavou o rosto fora do horário determinado. Através de sua conta no Twitter, que é atualizada pela equipe de aliados, ele disse que lavou o rosto às 5h24, quando a programação diz que ele deveria acordar às 5h e lavar o rosto às 6h.

“Dada a gravidade da ofensa (eles realmente disseram isso), você será transferido para a cela de punição por um prazo máximo de 15 dias”, relatou o rival de Putin. “Assim, meus planos para um Ano Novo chique foram arruinados: eu havia guardado um pacote de batatas fritas e uma lata de saury (um tipo de peixe) para isso”.

O político disse ainda que, apesar de se tratar de isolamento solitário, a administração do presídio fez questão de colocar junto com ele um outro detento. Segundo ele, o indivíduo em questão tem sérios problemas de higiene e está aparentemente gripado. O próprio Navalny diz que, depois da convivência, passou a apresentar sintomas de gripais, como tosse, calafrios e febre.

“Do ponto de vista médico, é óbvio que Alexei não recebe assistência médica suficiente, e mantê-lo em confinamento solitário é absolutamente contraindicado em seu estado”, diz a carta dos médicos.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do rival, que também passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Em janeiro deste ano, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março, foi julgado por peculato e desacato. Condenado, teve o tempo de detenção ampliado em nove anos. Nos últimos meses, ele relatou que novos crimes lhe foram imputados, podendo ampliar a detenção para até 30 anos.

De acordo com uma postagem feita no Twitter pela equipe dele, as novas acusações incluem os crimes de promover o terrorismo, apelar publicamente ao extremismo, financiar atividades extremistas e reabilitar o nazismo. Elas estariam relacionadas a vídeos publicados pela equipe no canal de Navalny YouTube.

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