Contraofensiva de Kiev incomoda Moscou e leva apoiadores a pedirem que Putin ataque o Ocidente

Reino Unido é citado como um alvo preferencial, após míssil britânico disparado pelos ucranianos destruir um navio de guerra russo

No dia 26 de dezembro de 2023, o navio de desembarque russo Novocherkassk foi atingido por um ataque das forças da Ucrânia na região da Crimeia. A ação danificou a embarcação, e alguns dos 87 tripulantes que nela estavam foram dados como desaparecidos. Segundo analistas pró-Kremlin, o apoio britânico foi crucial para o sucesso da ação, o que tem levado apoiadores do presidente Vladimir Putin a pressioná-lo por uma resposta militar principalmente contra o Reino Unido, mas também contra os EUA.

Na visão dos aliados de Putin, o governo britânico não forneceu apenas os mísseis que atingiram a Crimeia no final do mês passado. Teria colaborado também com dados de reconhecimento por satélite e orientação de alvo, sem os quais Kiev não teria condições de realizar um ataque com tamanha precisão.

O episódio aqueceu o debate sobre o papel do Ocidente na guerra, movimentando sites informativos russos e canais de Telegram. O analista político belarusso Yuri Baranchik foi um que usou o aplicativo de mensagens para defender um ataque direto ou indireto contra os britânicos.

Novocherkassk, navio russo supostamente destruído por míssil britânico (Foto: WikiCommons)

“Este é um golpe da Grã-Bretanha/Estados Unidos e um desejo de interromper o contexto positivo da captura de Marinka, bem como os recentes sucessos das Forças Armadas russas na frente”, disse ele, citando a conquista de um cidade de Donetsk ocorrida um dia antes do ataque ao Novocherkassk.

O analista até sugeriu uma solução, destacando que o navio britânico HMS Diamond está atualmente no Mar Vermelho como parte da Operação Guardião da Prosperidade, uma coalizão liderada pelos EUA para responder aos ataques realizados pelos Houthis contra navios comerciais, desdobramento da guerra entre Israel e Hamas no Oriente Médio.

“Podemos fornecer aos Houthis mísseis antinavio apropriados”, declarou Baranchik, acrescentando que é hora de “declarar oficialmente que a paciência da Rússia com as palhaçadas do Ocidente acabou.” Ainda segundo ele, mesmo navios norte-americanos no Mar Vermelho seriam “bons alvos” para um ataque dos Houthis patrocinado por Moscou, vez que “Washington não entrará em conflito direto conosco.”

Opinião semelhante emitiu o escritor russo Kirill Benediktov, editor-chefe da revista Fitzroy. “Um ataque eficaz a um navio britânico pelos Houthis garantirá a proteção da Frota do Mar Negro de novos ataques dos ucranianos”, disse ele através do canal de Telegram do periódico.

O site russo Pravda.ru, tido como um canal alinhado com o governo Putin, igualmente apontou o dedo para o Ocidente ao comentar a destruição do Novocherkassk. O canal falou em “envolvimento excessivo” de Londres na guerra e citou a possibilidade de uma resposta contra o HMS Diamond.

Embora o governo britânico não tenha comentado as acusações de envolvimento que partiram da Rússia, o sucesso do ataque ucraniano foi celebrado pelo secretário de Defesa Grant Shapps, que se manifestou através de seu perfil na rede social X, antigo Twitter.

“Esta última destruição da Marinha de Putin demonstra que aqueles que acreditam que há um impasse na guerra na Ucrânia estão errados!”, afirmou Shapps no dia do ataque, sugerindo que a contraofensiva ucraniana está, sim, surtindo os efeitos esperados. “Eles não notaram que nos últimos quatro meses 20% da Frota Russa do Mar Negro foi destruída”, acrescentou.

Reação de Moscou

Por ora, entretanto, não há qualquer sinal de que Moscou pretende retaliar contra o Ocidente, o que levaria a uma guerra de proporções inimagináveis. Quem paga o preço mesmo é a Ucrânia, alvo de ataques aéreos mais intensos desde os últimos dias de dezembro.

Na última quarta-feira (3), a ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que a recente ofensiva militar russa deixou ao menos 90 civis mortos, inclusive crianças. Somente a capital Kiev foi alvo de mais de cem mísseis desde os últimos dias de 2023.

Os bombardeios teriam atingido edifícios residenciais, escolas, uma maternidade, nove outras instalações médicas e infraestruturas civis críticas, como subestações de gás e eletricidade.

De acordo com Kiev, a onda mais dura de ataques ocorreu entre as últimas horas de 28 de dezembro e o início do dia seguinte. Nesse período, a Ucrânia calcula que a Rússia despejou 122 mísseis e 36 drones Shahed, ação que o Ministério da Defesa da Ucrânia classificou como “terrorismo“.

Tags: