Documentário relata vida de refugiados em aeroporto desativado em Berlim

Terminal construído na década de 1920 também foi abrigo para refugiados em busca de asilo na Alemanha

O documentário do cineasta brasileiro Karim Aïnouz “Central Airport THF” chegou às plataformas de streaming. O filme conta a história de requerentes de asilo que se abrigam no aeroporto desativado de Tempelhof, em Berlim, na Alemanha.

Construído na década de 1920, o enorme aeroporto foi renovado em 1930 pelo regime nazista e foi desativado em 2008, transformado em um parque público. Entre 2015 e o ano passado, o terminal também serviu de abrigo para refugiados.

O documentário acompanha a vida do jovem estudante sírio Ibrahim e do fisioterapeuta iraquiano Qutaiba por um ano. Enquanto passam por entrevistas, aulas de alemão e exames médicos, os dois tentam lidar com a saudade de casa e o medo da deportação.

Documentário relata vida de refugiados em aeroporto desativado em Berlim
Os refugiados Ibrahim e Qutaiba têm a vida retratada no documentário Central Airport THF (Foto: Juan Sarmiento/Reprodução)

Paralelos

O cineasta espera que a história gere mais empatia em meio à pandemia do novo coronavírus. Para Aïnouz, é possível traçar alguns paralelos com a situação relatada no filme e a vivida por bilhões de pessoas confinadas em suas casas. Muitos enfrentam dificuldades financeiras, além do medo da infecção.

“A incapacidade de saber o que o futuro reserva, o nível de incerteza e o fato de que a decisão sobre o futuro não é deles [trazem] uma situação semelhante ao que os ex-refugiados passaram naquela época”, afirmou em entrevista ao Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).

Diante da situação atual, o brasileiro decidiu lançar o filme diretamente nas plataformas de streaming. A pandemia adiou a data de estreia nos cinemas do Brasil, marcada para 26 de março deste ano.

Para Aïnouz, o documentário permite que os espectadores se coloquem no lugar dos refugiados e da parcela mais vulnerável da sociedade, como famílias pobres e pessoas que vivem nas ruas.

“No Brasil, quando se compara condições de vida entre bairros pobres e os mais prósperos, pode-se dizer que há ‘refugiados brasileiros’ vivendo em seu próprio país”, afirmou. “Eu espero que essa pandemia nos aproxime da dor dessas pessoas e nos permita ser mais solidários e menos hostis.”

Esperança

Os refugiados do documentário vivem um período de incerteza e espera, sem poder voltar para casa e sem saber o que o futuro os reserva. Mesmo assim, têm esperança de uma vida melhor.

“Quando você vê um menino de 17 anos deixando seu país não porque queria, mas porque estava fugindo de uma guerra, arriscando a própria vida para estar um lugar longe de casa, ainda ter esperança, é muito importante que tentemos mostrar compaixão um pelo outro”, disse o cineasta.

Para ele, o documentário é uma lição de que todos devem ter fé no futuro e imaginá-lo melhor que o passado. “Espero que o filme cause um grau de empatia maior do que teria gerado se fosse lançado em outro momento”, completou.

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