Julgada à revelia, líder democrática belarussa é condenada a 15 anos de prisão

Sviatlana Tsikhanouskaya, que vive no exterior devido à perseguição estatal, é acusada de traição e conspiração para tomar o poder

A líder democrática belarussa Sviatlana Tsikhanouskaya, que hoje vive exilada para fugir da perseguição do governo de seu país, foi sentenciada a 15 anos de prisão nesta segunda-feira (6). Na semana passada, a  equipe de promotores de Belarus que cuida do caso havia pedido uma pena de 19 anos de prisão.

Tsikhanouskaya, que fugiu de Belarus para a Lituânia e hoje vive no exterior, lidera a oposição ao presidente Alexander Lukashenko, que em 2020 a derrotou em uma eleição suspeita de fraude para beneficiar o ditador. Desde então ela entrou na mira do regime, e em janeiro começou a ser julgada por traição e conspiração para tomar o poder.

Ela usou o Twitter para se manifestar. “Quinze anos de prisão. Foi assim que o regime ‘recompensou’ meu trabalho por mudanças democráticas em Belarus. Mas hoje não penso na minha própria frase. Penso em milhares de inocentes, detidos e condenados a penas reais de prisão. Não vou parar até que cada um deles seja liberado”, disse ela.

Outras quatro pessoas associadas a ela, todas igualmente exiladas, também estão sendo julgadas à revelia. Um dos réus, o diplomata Pavel Latushko, foi condenado a 18 anos de prisão, enquanto os outros três pegaram 12 anos.

Sviatlana Tsikhanouskaya: 15 anos de prisão por se opor ao ditador belarusso (Foto: WikiCommons)
Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições no ano passado.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente Natalya Eismont chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos populares tomaram as ruas do país após o controverso pleito, as autoridades belarussas têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. A organização de direitos humanos Viasna diz que há atualmente quase de 1,5 mil prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

A violenta repressão imposta por Lukashenko levou muitos oposicionistas a deixarem o país. Aqueles que não fugiram são perseguidos pelas autoridades e invariavelmente presos. É o caso de Sergei Tikhanovsky, que cumpre uma pena de quase 20 anos de prisão sob acusações consideradas politicamente motivadas. Ele é marido de Sviatlana Tsikhanouskaia, candidata derrotada na eleição presidencial e hoje exilada.

Já o distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliada da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.

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