Lituanos arrecadam US$ 6 milhões para comprar drone de ataque para a Ucrânia

Jornalista local se inspirou em uma piada nas redes sociais para criar uma campanha destinada à compra de equipamento militar ao país invadido

Uma piada nas redes sociais na Lituânia originou uma campanha de arrecadação que irá beneficiar a resistência ucraniana contra a Rússia. Tudo começou com a frase “Vamos todos contribuir e comprar um tanque para a Ucrânia”, que era para ser jocosa, mas acabou inspirando um jornalista local a arrecadar fundos para a compra de equipamento militar para o país invadido. As informações são da Radio Free Europe.

Nas últimas semanas, a piada foi levada a sério e ficou ecoando na cabeça de Andrius Tapinas, que buscava bolar algo para intensificar seus esforços para ajudar os ucranianos, o que já vinha sendo feito na emissora em que ele trabalha em Vilnius, capital lituana.

“A empresa em que trabalho, a Laisves TV, tenta ajudar a Ucrânia desde o início da guerra”, disse Tapinas, acrescentando que a empresa arrecadou fundos para assistência humanitária e providenciou transporte para refugiados deixarem a Ucrânia.

Drone turco Bayraktar modelo TB2, em dezembro de 2019 (Foto: Wikimedia Commons)

Então, impulsionado pela brincadeira e inspirado por sua empresa, ele próprio iniciou uma campanha na qual foram arrecadados 330 mil euros (US$ 354 milhões), dinheiro investido na compra de dois drones de observação fabricados na Estônia.

“Os drones serão usados ​​para guiar o fogo de artilharia”, disse Tapinas. “Fizemos isso [a campanha] em 16 horas”, comemora.

“Mostre o que pode fazer”

O jornalista não parou ali e emendou um próximo projeto para auxiliar Kiev. A meta seguinte era a de adquirir um drone de ataque, o Bayraktar, de fabricação turca. A aeronave não tripulada tem capacidade de voar até 150 quilômetros partindo de sua base e poder de fogo para destruir veículos blindados com quatro mísseis de “micromunição inteligente”.

O plano foi encaminhado. Tapinas explicou seu projeto ao Ministério da Defesa da Lituânia, que iniciou tratativas tanto com a Embaixada da Turquia quanto com o fabricante do drone. A resposta veio na última quarta-feira (25).

“Eles nos deram luz verde”, conta o jornalista. “O ministro me ligou e disse: ‘Está tudo pronto. Eles concordaram em vender um Bayraktar. Tudo o que resta é recolher o dinheiro. Mostre o que você pode fazer!’”.

Três dias foram o suficiente para a Laisves TV conseguir um crowdsourcing (uma espécie de terceirização coletiva) de 5,8 milhões de euros (US$ 6,2 milhões). As doações vieram de 50 países – inclusive da Rússia –, mas quem fez mesmo a diferença foram os cidadãos lituanos, com 95% das contribuições, disse Tapinas.

“Recebemos apenas uma ou duas doações de mais de 20 mil euros”, disse ele. “A maioria deles estava entre 1 euro e 200 euros. Ainda estamos processando tudo, mas recebemos doações de várias centenas de milhares de pessoas. Estamos falando de professores e até uma transferência de um lar para idosos. As crianças mandavam dinheiro que estavam economizando para comprar bicicletas ou jogos de computador. Foi muito tocante”, relata o jornalista.

Segundo o organizador da campanha, pelo menos dez doações vieram de território russo. Alguns doadores justificaram o ato: “Tenho vergonha do meu país”.

Nesta terça-feira (30), um vice-ministro da Defesa da Lituânia embarcou para a Turquia com a missão de finalizar o acordo para a compra do drone e sua base, bem como alinhar a entrega do equipamento aos militares ucranianos.

Fundamental para o exército ucraniano, o drone Bayraktar virou tema de música e deu nome a animais de estimação, desde cães até um um lêmure.

No ano passado, as forças armadas ucranianas anunciaram a destruição de uma artilharia de separatistas pró-Rússia em Donbass, no leste do país, com uso pela primeira vez do mesmo drone turco em uma operação de combate.

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