Lukashenko confirma que a Rússia começou a posicionar armas nucleares em Belarus

Manobras foram oficialmente iniciadas após o presidente russo Vladimir Putin assinar um decreto nesse sentido na quarta-feira

A Rússia já começou a posicionar algumas de suas armas nucleares em Belarus, país que faz fronteira com três nações da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Lituânia, Letônia e Polônia. A efetiva movimentação do equipamento, que vinha sendo prometida desde março, foi anunciada pelo presidente belarusso Alexander Lukashenko, segundo informou o jornal independente The Moscow Times.

“A transferência de munições nucleares começou”, disse o ditador durante visita a Moscou.

As manobras foram oficialmente iniciadas após o presidente russo Vladimir Putin assinar um decreto nesse sentido. Os russos enviaram ao território aliado armas nucleares táticas, que têm alcance reduzido, com precipitação radioativa limitada a cerca de um quilômetro.

Encontro entre Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

O equipamento em questão difere das armas nucleares estratégicas, capazes de destruir cidades inteiras como ocorreu em Hiroshima e Nagasaki em 1945. As táticas, menos potentes, servem para aniquilar posições estratégicas do inimigo.

Calcula-se que a Rússia tenha à disposição de suas forças armadas cerca de 1,9 mil ogivas nucleares táticas, o maior arsenal do tipo no mundo. Tais armas podem ser disparadas pela maioria dos jatos das forças armadas russas, bem como por lançadores de foguetes e mísseis convencionais.

O anúncio levou a uma manifestação de repúdio da líder democrática belarussa Sviatlana Tsikhanouskaya, que vive exilada para fugir da perseguição do governo de seu país. “Isso não apenas colocaria em risco a vida dos belarussos, mas também criaria uma nova ameaça contra a Ucrânia e toda a Europa”, disse ela em sua conta no Twitter.

Segundo a rival de Lukashenko, a medida é uma tentativa desesperada de Putin de compensar as perdas no campo de batalhas na guerra em curso na Ucrânia. “Como o exército russo se mostrou ineficaz, ele está jogando a última carta que tem”, afirmou.

Tsikhanouskaya pediu ainda que o Ocidente amplie as sanções impostas a Belarus em função da guerra, na tentativa de reverter a situação. “Eles devem saber que, se a implantação acontecer, os ditadores enfrentarão consequências devastadoras”, declarou, referindo-se a Putin e Lukashenko.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW), em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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