Manifestações após decisão sobre aborto na Polônia chegam ao sexto dia

Nova lei defende que aborto não poderá ocorrer em caso de defeito fetal; protestos já chegam a 50 cidades

Pelo sexto dia consecutivo, manifestantes contrários à decisão sobre aborto na Polônia voltaram às ruas. O Tribunal Constitucional do país decidiu, na quarta (21), que o aborto é ilegal mesmo em caso de defeitos fetais.

Na contramão da legislação em vigor, a interrupção da gravidez só será aceita em casos de estupro, incesto ou para proteger a vida da mãe. A nova lei ainda não tem data para vigorar no país.

Pautada por uma maioria católica, a decisão culminou em protestos em cerca de 50 cidades polonesas nesta segunda-feira (26). Manifestantes bloquearam cruzamentos e o trânsito ficou parado por cerca de uma hora na capital Varsóvia.

Manifestações após decisão sobre aborto na Polônia chegam ao sexto dia
Manifestantes permaneceram em protesto contra a decisão sobre aborto na madrugada do dia 27 de outubro de 2020, em Varsóvia, capital da Polônia (Foto: Flickr/Fabian Steffens)

Nesta terça (27) o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, pediu pelo fim dos protestos. Segundo o premiê, a população está se “colocando em risco” enquanto o novo coronavírus volta a circular em vários países da Europa. França e Itália já impuseram novas restrições para combater o novo surto.

“Essas explosões que estamos vendo nas ruas não deveriam acontecer de forma alguma”, disse Morawiecki à Reuters. A Polônia “garantirá” que mães e filhos nascidos apesar de problemas de saúde receberão ajuda e cuidados para “viver uma vida normal”, afirmou o primeiro-ministro.

Herança conservadora

Liderada pelo presidente de ultradireita, Andrzej Duda, a Polônia já abandonou a Convenção de Istambul em agosto. O tratado europeu lança medidas para prevenir e combater a violência contra as mulheres.

O governo também apoia cidades que se dizem “zonas livres de LGBTs” enquanto especialistas apontam para um grave recuo democrático no país.

“Já perdoamos este governo em tantos escândalos diferentes, mas não perdoaremos este ataque à liberdade e dignidade das mulheres“, disse uma das manifestantes ao britânico “The Guardian“.

De acordo com um levantamento da BBC, a Polônia registra cerca de mil abortos legais por ano. Grupos de ativistas, no entanto, apontam que o número de procedimentos realizados de forma ilegal gira entre 80 mil e 120 mil anualmente.

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