Manifestante de Hong Kong é agredido em frente ao consulado chinês no Reino Unido

Ativistas e legisladores do Reino Unido exigem que seja investigada a agressão a um manifestante pró-democracia ocorrida no domingo

A polícia de Manchester, na Inglaterra, investiga o caso de um manifestante pró-democracia de Hong Kong que teria sido vítima de agressão no domingo (16) enquanto participava de um protesto pacífico do lado de fora do consulado chinês na cidade. As informações são da rede CNN.

A vítima, que foi arrastada para as instalações por homens não identificados que saíram do consulado, integra um grupo pró-democracia chamado Força de Defesa Indígena de Hong Kong, que esteve à frente de uma manifestação organizada em frente ao prédio. O ato simbolizava contrariedade ao 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), iniciado no mesmo dia em Beijing.

Um vídeo do incidente que viralizou nas redes sociais mostra um confronto na calçada em frente ao portão de entrada, onde havia cartazes com a mensagem “Deus, destrua o Partido Comunista Chinês”. Em meio à confusão, as imagens mostram um manifestante sendo arrastado para a área interna do consulado, onde é imobilizado e agredido a socos por um grupo de homens.

O manifestante agredido, identificado como Bob, relatou à rede Voice of America (VOA News) o que ocorreu.

“Fui socado e chutado depois de ter sido puxado, tenho hematomas no rosto, tenho sangramento e inchaço, tenho cabelos arrancados da cabeça, tenho hematomas no pescoço, nas costas e tenho algumas dores nas costas”, contou.

Ele pediu aos políticos britânicos para que condenassem fortemente o incidente e não aceitassem que manifestantes pacíficos fossem atacados. “Eu definitivamente insistirei em falar e continuar a me opor a este brutal partido comunista”.

Confusão ocorreu quando grupo protestava pela independência de Hong Kong do lado de fora da embaixada (Foto: Twitter/Reprodução)

O grupo de dissidentes acusa funcionários da embaixada de espancarem o companheiro, que mais tarde foi levado a um hospital em condições estáveis. A polícia local declarou que abriu uma investigação para apurar o ocorrido, no qual um homem “sofreu vários ferimentos físicos”.

“Pouco antes das 16h, um pequeno grupo de homens saiu do prédio e um homem foi arrastado para o terreno do Consulado e agredido. Devido aos nossos temores pela segurança do homem, os policiais intervieram e removeram a vítima do terreno do Consulado”, disse o subchefe de polícia Rob Potts em comunicado.

De acordo com a autoridade policial, o homem, com cerca de 30 anos, permaneceu no hospital durante a noite para tratamento. “Ele continua recebendo nosso apoio para seu bem-estar”, acrescentou. A nota ainda diz que até o momento “nenhuma prisão foi feita” e que a investigação está em andamento.

Membros do Parlamento britânico, incluindo o ex-líder do Partido Conservador Iain Duncan Smith, bem como Catherine West e Alicia Kearns, pediram ao Ministério das Relações Exteriores e ao secretário do Interior que investiguem o incidente.

A rede BBC repercutiu a resposta do consulado chinês, que classificou o ato como “deplorável” e definiu os manifestantes como “um pequeno grupo de defensores da independência de Hong Kong” e disse que nenhum consulado toleraria pessoas exibindo imagens que insultassem o presidente Xi Xinping.

Por que isso importa?

Após a transferência de Hong Kong do domínio britânico para o chinês, em 1997, o território passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa por independência e democracia em 2019.

A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.

No final de julho de 2021, um ano após a implementação da lei, foi anunciado o primeiro veredito de uma ação judicial baseada na nova normativa. Tong Ying-kit, um garçom de 24 anos, foi condenado a nove anos de prisão sob as acusações de praticar terrorismo e incitar a secessão.

O incidente que levou à condenação ocorreu em 1º de julho de 2020, o primeiro dia em que a lei vigorou. Tong dirigia uma motocicleta com uma bandeira preta na qual se lia “Liberte Hong Kong. Revolução dos Nossos Tempos”, slogan usado pelos ativistas antigoverno nas manifestações de 2019.

Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes graças à lei. Já as autoridades de Hong Kong reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território

O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.

Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada”.

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