Michele Bachelet volta a condenar crimes de guerra na Ucrânia: ‘História de horror’

Chefe de direitos humanos da ONU reporta mais de 2 mil civis mortos em função dos ataques realizados por tropas russas

O Escritório de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que há evidências crescentes de crimes de guerra no conflito na Ucrânia. Na última sexta-feira (22), a alta comissária para os direitos humanos, Michelle Bachelet, afirmou que o direito humanitário parece ter sido “deixado de lado” e que, até o momento, as avaliações detalham uma “história de horror de violações contra civis”.

Para ela, os bombardeios indiscriminados das forças armadas russas em áreas povoadas, matando civis e destruindo hospitais, escolas e outras infraestruturas, são ações que podem equivaler a crimes de guerra.

Bachelet citou o episódio em Kramatorsk, em 8 de abril, quando bombas atingiram a estação ferroviária da cidade, matando 60 civis e ferindo outros 111. Na avaliação dela, o ataque foi “emblemático do descumprimento do princípio da distinção, da proibição de ataques indiscriminados e do princípio da precaução consagrado no Direito Internacional Humanitário”.

A Missão de Monitoramento de Direitos Humanos da ONU na Ucrânia também documentou, entre 24 de fevereiro e 20 de abril, 5.264 vítimas civis, sendo 2.345 mortos e 2.919 feridos. Destes, 92,3% foram registrados em território controlado pelo governo ucraniano. Cerca de 7,7% das vítimas estavam nas regiões de Donetsk e Luhansk, controladas pelas forças armadas russas e grupos armados afiliados.

Chefe de Direitos Humanos da ONU vê violações e crimes de guerra na Ucrânia
A alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, em pronunciamento em evento do jornal norte-americano “New York Times”, em março de 2013 (Foto: UN Women/Catianne Tijerina)

Segundo a chefe de direitos humanos da ONU, os números reais devem ser ainda maiores e poderão ser observados “à medida que os horrores infligidos em áreas de intensos combates, como Mariupol, vierem à tona”.

Bachelet acrescentou que a escalada de execuções sumárias de civis em áreas anteriormente ocupadas por forças russas também está ficando mais clara. E afirmou que a preservação das evidências e o tratamento digno dos restos mortais devem ser garantidos, assim como o alívio psicológico e outros para as vítimas e seus familiares.

Durante uma missão a Bucha, em 9 de abril, oficiais de direitos humanos da ONU documentaram o assassinato ilegal, inclusive por execução sumária, de cerca de 50 civis. Também estão sendo investigadas 300 denúncias de assassinatos de civis nas regiões de Kiev, Chernihiv, Kharkiv e Sumy, todas sob o controle das forças armadas russas no final de fevereiro e início de março.

Ataques a hospitais

Há ainda o monitoramento das consequências do conflito em uma série de outros direitos humanos, incluindo o direito à saúde. Até o momento, há registros de 114 ataques a estabelecimentos médicos, embora o número real provavelmente seja consideravelmente maior, de acordo com o escritório de Direitos Humanos.

A interrupção dos cuidados médicos também fez com que a taxa geral de mortalidade entre os civis aumentasse em várias cidades e vilas sitiadas.

“Estimamos que pelo menos 3 mil civis tenham morrido porque não conseguiram atendimento médico e por causa do estresse em sua saúde em meio às hostilidades. Isso inclui ser forçado pelas forças armadas russas a ficar em porões ou não poder deixar suas casas por dias ou semanas”, disse Bachelet.

Os dados são complementados por uma pesquisa divulgada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que aponta que um em três domicílios que possuem pelo menos uma pessoa com uma condição crônica é incapaz de obter medicamentos e cuidados adequados. A pesquisa também mostra que 30% das formações familiares têm pelo menos um membro com doença crônica, como doenças cardiovasculares, diabetes ou câncer.

Menos de 30% dos entrevistados procurou serviços de saúde recentemente; desses, 39% citaram a situação de segurança como o principal motivo, enquanto 27% relataram que nenhum serviço de saúde estava disponível em sua área.

A questão dos deslocados

Com mais de 7,7 milhões de ucranianos deslocados, tanto dentro como fora das fronteiras da Ucrânia, a OIM (Organização Internacional para Migrações) está atuando para garantir acomodação segura à população que foge da guerra.

Em meio ao conflito, a maioria das famílias está abrigada em suas próprias casas neste momento, enquanto 11% estão hospedadas com amigos e familiares em áreas relativamente mais seguras, 8% estão em movimento na Ucrânia e 3% estão em um abrigo ou acampamento para deslocados internos.

A agência começou a reabilitar edifícios não utilizados e danificados, incluindo dormitórios escolares e hotéis, para fornecer locais temporárias para os deslocados internos na região de Zakarpattia como parte de um novo programa de reabilitação de abrigos. A iniciativa deve atender a quase 1 milhão de deslocados.

De acordo com o coordenador do Programa de Emergência e Estabilização da OIM na Ucrânia, Marco Chimenton, o trabalho deve melhorar as condições de alojamento para as populações vulneráveis, ao mesmo tempo que proporciona emprego às comunidades locais e apoia indiretamente a economia local.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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