Navalny diz que será enviado a cela isolada e completará um ano sem receber visitas

"Mesmo maníacos e assassinos em série que cumprem penas de prisão perpétua têm o direito de receber uma visita, mas eu não", disse o político

O político russo Alexei Navalny, mais importante opositor doméstico do presidente Vladimir Putin, disse na quarta-feira (1º) que será transferido para uma cela isolada no presídio IK-6 em que cumpre pena, na região de Vladimir, a cerca de 250 quilômetros de Moscou. Segundo ele, que se manifestou no Twitter, a mudança o afastará dos demais detentos e o levará a completar mais de um ano sem receber visitas.

“Não são permitidas visitas ali. Isso significa mais de um ano sem uma visita”, afirmou Navalny, alegando que já está há oito meses sem ver seu familiares. “Mesmo maníacos e assassinos em série que cumprem penas de prisão perpétua têm o direito de receber uma visita, mas eu não. Bem, as dificuldades tornam a pessoa mais resistente, embora eu não entenda por que isso também se aplica aos meus filhos”.

Segundo o oposicionista, a punição reforça a importância de lutar contra o “inescrupuloso regime” de Putin. “É importante fazer qualquer coisa para tirar da Rússia o jugo desses canalhas e dissipar a ilusão que eles plantaram na cabeça de milhões”, disse ele pela rede social, cuja conta é atualizada por aliados que vivem hoje no exílio.

Frio e doenças

Vadim Kobzev, advogado de Navalny, afirmou que a cela para onde ele será transferido é conhecida como PKT. E confirmou que a punição será imposta pelo período máximo previsto em lei, seis meses. “Essas ações não podem ser consideradas senão como uma estratégia aberta para destruir a saúde de Navalny por todas as forças e meios”, disse o profissional.

De acordo com o advogado, Putin estaria por trás da ordem. “É óbvio que a colônia não teria ousado empreender tal nível de ilegalidade demonstrativa sem instruções de Moscou”, declarou.

Navalny em manifestação contra o Kremlin em Moscou, junho de 2013 (Foto: Divulgação/Bogomolov.PL)

Kobzev ainda acusou a administração do presídio de contaminar Navalny intencionalmente com um vírus e então fornecer medicação inapropriada. “O Serviço Penitenciário Federal continua sua ilegalidade e trabalha diretamente para minar a saúde de Navalny”, disse o advogado.

Nesse sentido, o oposicionista chegou a processar o governo russo alegando que não recebeu botas de inverno, o que diz ser um problema sério devido às baixíssimas temperaturas do inverno local. Por conta do frio, ele afirma que ficou doente em mais de uma ocasião. E reforçou a denúncia de Kobzev, dizendo que um preso gripado e com péssima higiene chegou a ser colocado propositalmente na cela dele.

Tais circunstâncias levaram um grupo de médicos russos a publicar uma carta aberta, acompanhada de um abaixo-assinado, exigindo “o fim do abuso” na colônia penal IK-6 e pedindo que tratamento médico adequado fosse oferecido a Navalny. Até quarta-feira (1º), 290 especialistas haviam assinado o documento.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do rival, que também passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Em janeiro deste ano, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março, foi julgado por peculato e desacato. Condenado, teve o tempo de detenção ampliado em nove anos. Nos últimos meses, ele relatou que novos crimes lhe foram imputados, podendo ampliar a detenção para até 30 anos.

De acordo com uma postagem feita no Twitter pela equipe dele, as novas acusações incluem os crimes de promover o terrorismo, apelar publicamente ao extremismo, financiar atividades extremistas e reabilitar o nazismo. Elas estariam relacionadas a vídeos publicados pela equipe no canal de Navalny no YouTube.

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