Um terceiro suspeito foi detido em Viena sob a acusação de planejar um ataque a um show de Taylor Swift, informou o ministro do Interior da Áustria nesta sexta-feira (9). O acusado, um iraquiano, foi preso um dia após duas outras detenções, em relação a uma ameaça que levou ao cancelamento de três shows na capital austríaca. As informações são da agência Reuters.
Na quarta-feira (7), dois homens acusados de servir ao Estado Islâmico (EI) foram presos na capital austríaca. As autoridades do país acreditam que eles planejavam realizar um ataque nos shows da cantora norte-americana na cidade.
O ministro do Interior, Gerhard Karner, anunciou que um jovem de 18 anos foi preso, junto com dois outros suspeitos, em conexão com planos de ataque. Tanto o principal suspeito, um austríaco de 19 anos com origem na Macedônia do Norte, quanto o jovem detido, fizeram juramentos de fidelidade ao EI, embora o último não estivesse diretamente envolvido nos planos de ataque.
Karner acrescentou que o iraquiano está ligado ao mesmo grupo do principal suspeito.
O principal suspeito teve a residência vasculhada pelos policiais, que encontraram produtos químicos. O material está sendo analisado para avaliar se tem potencial para ser usado na fabricação de explosivos. Também foi apurado pela investigação que ele pesquisou como fabricar bombas e leu materiais da Al-Qaeda. O jovem confessou que planejou o ataque desde julho, visando “matar o máximo de pessoas possível” fora do show usando explosivos e facas.
As autoridades austríacas teriam recebido informações sobre a ameaça ao show de Swift através dos serviços de inteligência dos EUA, uma vez que a legislação austríaca não permite o monitoramento dos aplicativos de mensagens instantâneas utilizados pelos suspeitos para se comunicarem.
A próxima parada da tour “Swiftie” da cantora pop é no Reino Unido. O prefeito de Londres confirmou que os próximos shows de Taylor Swift não serão cancelados, apesar do ataque de 2017 em Manchester ainda ser lembrado. Recentemente, os shows de Swift na Alemanha atraíram grandes públicos e resultaram na prisão de um suposto perseguidor.
Alerta de segurança na Europa
A Europa está em alerta desde o início do conflito entre Israel e Hamas, com ataques e ameaças registrados em diversos países. Em 16 de outubro do ano passado, dois cidadãos suecos foram mortos em Bruxelas, na Bélgica, por um tunisiano que vivia ilegalmente no país e que alegou ter cometido o ato em nome do EI, que confirmou a filiação.
O agressor, Abdesalem Lassoued, morto pela polícia belga, disse que agiu motivado pelo sentimento de vingança devido aos episódios de queima do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, ocorridos na Suécia em 2023. Por isso, os alvos dele foram cidadãos suecos, que visitavam a Bélgica justamente por conta de uma partida de futebol, cenário que poderia se repetir durante a Eurocopa.
Segundo levantamento do site independente russo Important Stories, ao menos cinco países europeus evitaram ataques coordenados pelo EI-K desde 2023. A Alemanha realizou em julho de 2023 uma operação conjunta com a Holanda e prendeu terroristas que diziam servir ao grupo afegão. As outras nações que conseguiram frear os planos do grupo foram Áustria, Espanha e França.
Por que isso importa?
O EI passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.
De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”
Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.
Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).
A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.
O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.
“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz a ONU, citando a África como uma região de particular preocupação.
Terrorismo no Brasil
Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.
Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.
Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).
A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.
“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”