Alemanha e Holanda prendem nove acusados de ligação com o Estado Islâmico

Indivíduos são acusados de formar um "grupo terrorista" para arrecadar dinheiro e organizar atentados na Europa

Uma operação de contraterrorismo realizada na Alemanha e na Holanda, na quinta-feira (6), levou à prisão de nove indivíduos, todos cidadãos de países da Ásia Central, acusados de ligação com o Estado Islâmico (EI) e de planejar ataques na Europa. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

Sete prisões ocorreram na cidade de Karlsruhe, Alemanha, e os indivíduos detidos são acusados de formar um “grupo terrorista doméstico” com a função de arrecadar dinheiro para o EI e organizar atentados no país.

São cinco cidadãos do Tadjiquistão, um do Turcomenistão e outro do Quirguistão que viviam na Alemanha desde o ano passado, tendo chegado ao país através da Ucrânia logo após a invasão russa.

A promotoria alemã afirma que a pequena célula mantinha contato com o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), ramificação do grupo no Afeganistão bastante ativa nos últimos anos, tendo realizado inúmeros ataques no país desde que o Taleban tomou o poder.

“A Alemanha ainda está no alvo direto de organizações terroristas islâmicas e de perpetradores islâmicos individuais motivados”, disse ministra do Interior Nancy Faeser sobre as prisões.

Na Holanda, os detidos são um homem e uma mulher do Tadjiquistão, que estariam “em contato com várias pessoas na Alemanha”, embora não tenha ficado claro se os contatos eram especificamente do grupo detido no mesmo dia.

“A investigação policial levou à suspeita de que o homem é um membro do EI e que recebeu ordem para planejar um ataque terrorista”, disse o Ministério Público holandês em comunicado. “Embora os planos ainda não fossem concretos, eles eram sérios o suficiente para que o Ministério Público da Holanda interviesse.”

Integrantes dos exércitos dos EUA e do Iraque exibem bandeira do Estado Islâmico (Foto: Flickr)
Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, EI e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito como a África, onde são representadas por grupos afiliados regionais. O Afeganistão, agora sob o comando do Taleban, também é um porto seguro para muitos jihadistas.

O continente africano ganhou importância em meio às derrotas impostas às grandes organizações jihadistas em outras regiões, caso do Oriente Médio. Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. O EI, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas do grupo na Síria.

Em fevereiro do ano passado, o EI sofreu um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, líder da facção. Em outubro, o próprio grupo revelou que Abu al-Hassan al-Hashimi al-Qurashi, sucessor de Abu Ibrahim, também foi morto. Um terceiro líder do grupo, Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, foi morto em abril de 2023 durante ação de forças turcas.

No caso da Al-Qaeda, que igualmente mantém facções relevantes na África, a sobrevivência do grupo pode ser explicada também pela tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. “As avaliações dos Estados-Membros até agora sugerem que a Al-Qaeda tem um porto seguro sob o Taleban e maior liberdade de ação”, diz relatório da ONU divulgado no final de maio do ano passado.

“A Al-Qaeda permanece no sul e leste do Afeganistão, onde tem uma presença histórica”, diz o relatório. “O grupo supostamente tem de 180 a 400 combatentes, com as estimativas dos Estados-Membros inclinando-se para o número mais baixo”, prossegue o documento, que cita cidadãos de Bangladesh, Índia, Mianmar e Paquistão como sendo integrantes da facção.

O ex-líder da organização Ayman al-Zawahri, inclusive, foi morto em território afegão em um ataque das forças armadas dos EUA no dia 1º de agosto de 2022.

Anteriormente, a ONU já havia lembrado que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alegou que um filho de Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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