Áustria prende seguidores do EI que planejavam atacar show de Taylor Swift

Indivíduos foram radicalizados pela internet, juraram lealdade ao grupo terrorista e preparavam uma ação em Viena

Dois homens acusados de servir ao Estado Islâmico (EI) foram presos nesta quarta-feira (7) em Viena, na Áustria. As autoridades do país acreditam que eles planejavam realizar um ataque nos shows da cantora norte-americana Taylor Swift na capital austríaca. As apresentações foram canceladas, segundo informou a rede NBC News.

De acordo com as forças de segurança do país europeu, os dois indivíduos foram radicalizados através da internet e então juraram lealdade à organização extremista.

Um dos suspeitos, de 19 anos, teve a residência vasculhada pelos policiais, que encontraram produtos químicos. O material está sendo analisado para avaliar se tem potencial para ser usado na fabricação de explosivos.

A artista planejava fazer três apresentações na capital austríaca, agendas para sexta-feira (9), sábado (10) e domingo (11). Diante da ameaça, os shows foram cancelados.

“Com a confirmação de autoridades governamentais sobre um ataque terrorista planejado no Estádio Ernst Happel, não temos escolha a não ser cancelar os três shows programados, para a segurança de todos”, disse a Barracuda Music, organizadora de eventos na cidade. “Todos os ingressos serão reembolsados em um prazo de até dez dias úteis.”

Alerta de segurança na Europa

A Europa está em alerta desde o início do conflito entre Israel e Hamas, com ataques e ameaças registrados em diversos países. Em 16 de outubro do ano passado, dois cidadãos suecos foram mortos em Bruxelas, na Bélgica, por um tunisiano que vivia ilegalmente no país e que alegou ter cometido o ato em nome do EI, que confirmou a filiação.

O agressor, Abdesalem Lassoued, morto pela polícia belga, disse que agiu motivado pelo sentimento de vingança devido aos episódios de queima do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, ocorridos na Suécia em 2023. Por isso, os alvos dele foram cidadãos suecos, que visitavam a Bélgica justamente por conta de uma partida de futebol, cenário que poderia se repetir durante a Eurocopa.

Segundo levantamento do site independente russo Important Stories, ao menos cinco países europeus evitaram ataques coordenados pelo EI-K desde 2023. A Alemanha realizou em julho de 2023 uma operação conjunta com a Holanda e prendeu terroristas que diziam servir ao grupo afegão. As outras nações que conseguiram frear os planos do grupo foram Áustria, Espanha e França.

Por que isso importa?

O EI passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz a ONU, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

Tags: