Quais serão os impactos da execução de Prigozhin e Utkin para a Ucrânia?

Autoridades de Kiev fizeram projeções sobre o futuro do conflito após a queda do avião que levava os chefes do Wagner Group

Evgney Prigozhin, o temido e beligerante líder mercenário por trás de um levante mal-sucedido contra o Kremlin, está morto. O destino do homem que representou a maior ameaça ao governo de mais de duas décadas de Vladimir Putin rendeu manifestações tanto em Moscou quanto em Kiev, preparando um terreno fértil para especulações e um ponto de interrogação: como isso influenciará a guerra da Ucrânia?

Nesta quinta-feira (24), um dia após a queda do jato executivo da Embraer com sete passageiros – entre eles o número dois do Wagner Group, Dmitriy “Wagner” Utkin – e três tripulantes a bordo perto de Tver, na Rússia, Putin abordou a morte do ex-aliado. Sua declaração colocou um fim às incertezas sobre o falecimento de Prigozhin.

Em vídeo, o líder russo expressou suas condolências à família do chefe do Wagner e reconheceu que, apesar de ser uma figura controversa, ele “alcançou seus objetivos”. Também destacou a contribuição significativa da organização paramilitar na luta contra o “nazismo” na Ucrânia, ressaltando que essa ação “nunca será esquecida”. No entanto, o presidente russo também observou que Prigozhin “cometeu erros significativos ao longo de sua vida”.

Último voo: jato executivo Legacy 600, da Embraer, que levava o empresário Evgney Prigozhin (Foto: WikiCommons)
Moscou mais “vulnerável”

Quem também falou sobre a morte de Prigozhin foi Anton Gerashchenko, assessor especial do Ministério do Interior ucraniano. Para ele, primeiramente, a morte do chefe do Wagner indica que a Rússia enfraquecerá. Sua tese é a de que eliminação de um inimigo astuto, determinado e inteligente da Ucrânia, como Prigozhin, resultará em um adversário mais vulnerável.

“Ele possuía habilidades para abordagens não convencionais em situações complexas, algo que nem Putin, Shoigu, Gerasimov nem seus subordinados podem fazer”, escreveu ele no X, antigo Twitter.

Gerashchenko também analisou que os criminosos de guerra ligados a Prigozhin e Utkin – soldados, oficiais do exército russo e mercenários de outras organizações paramilitares que lutaram contra a Ucrânia – agora ficam desmotivados. E repercutiu o que um deles escreveu: “Não sabemos se Prigozhin estava a bordo. Mas, se estava, então está na hora de partir, não precisamos mais desta guerra.”

Prigozhin e Utkin (Foto: WikiCommons)

O assessor acredita que o Wagner Group deixará de existir sem a influência de Prigozhin e Utkin. E prevê que os remanescentes wagnerianos buscarão refúgio em regimes ditatoriais de África, Ásia e América Latina, protegendo atividades como mineração de diamantes e produção de drogas na selva.

“A situação afetará dezenas de milhares de famílias dos wagnerianos que anteriormente recebiam apoio por meio das estruturas de Prigozhin”, disse Gerashchenko. “Agora, sem esse suporte, aumentarão as tensões sociais e a desestabilização interna na Rússia, o que é benéfico para a Ucrânia”, relatou, acrescentando que a execução pública também ampliará a incerteza entre as elites do Kremlin.

Gerashchenko também diz não acreditar na possibilidade de que um grupo secreto entre os wagnerianos leais a Prigozhin e Utkin seja formado, com a intenção de vingança contra Putin, o ministro da Defesa Serguei Shoigu e o principal general russo, o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov. “Isso pode resultar em ações extremas seguindo as leis da vingança”.

E acrescentou: “Esperamos que esses três indivíduos não vivam para celebrar o 33º aniversário do Dia da Independência”, fazendo menção ao feriado nacional ucraniano, que celebra o 32° ano nesta quinta-feira (24).

“Vacina contra a estupidez”

Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, também tuitou sobre a morte de Prigozhin.

Ele manifestou que a eliminação pública de Prigozhin expõe mais uma vez a verdadeira natureza dos “acordos de Minsk“, as “garantias de segurança” russas e a intervenção do presidente belarusso Alexander Lukashenko.

Para Podolyak, o episódio serve como uma valiosa lição para aqueles que “mantêm esperanças de negociações com Putin”, sustentadas por condições como um “cessar-fogo e suspensão do fornecimento de armas”.

“Na minha opinião, essa é uma excelente vacina contra a estupidez baseada nos padrões da KGB”.

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