‘Rambo russo’ diz que agora lutaria pela Ucrânia e diz sentir ‘ódio’ por seu país

Outrora o favorito de Vladimir Putin, o ator Artur Smolyaninov fugiu para a Noruega e agora enfrenta um processo criminal

De ator preferido de Vladimir Putin por um aclamado papel heróico nas telonas a inimigo do Estado. O russo Artur Smolyaninov deixou de ser um intérprete fetichista do chefe do Kremlin após se posicionar a favor da Ucrânia na guerra, segundo a agência russa Tass. Em resposta, o Ministério da Justiça incluiu o nome dele no registro de agentes estrangeiros e abriu um processo criminal contra ele. As informações são da rede CNN.

Smolyaninov ficou conhecido como o “Rambo russo” por seu papel no drama de guerra ‘Devyataya Rota’ (lançado no Brasil com o nome ‘9º Pelotão’), de 2005. No longa, ele dá vida a um soldado soviético durante a Guerra Afegã-Soviética, travada entre 1979 e 1989. Embora o filme tenha inúmeras cenas de ação que lembram a franquia estrelada por Sylvester Stallone, curiosamente, em ‘Rambo 3’, ambientado neste mesmo conflito, o protagonista luta contra Moscou ao lado de rebeldes afegãos.

Em entrevista ao jornal russo Novaya Gazeta na semana passada, o ator, que está exilado após cruzar a fronteira por terra, disse estar preparado para lutar ao lado de Kiev e tirar a vida de soldados compatriotas sem indulgência. “Não sinto nada além de ódio pelas pessoas do outro lado (russo) da linha de frente. E se eu estivesse lá, não haveria misericórdia”.

O ator russo Artur Smolyaninov buscou exílio na Noruega após declarações (Foto: WikiCommons)

A forte declaração lhe custou uma multa de 30 mil rublos (cerca de R$ 2.240) por desacreditar as forças armadas russas, decidiu um tribunal de Moscou. Mais tarde, Smolyaninov decidiu deixar o país atravessando a pé a fronteira norueguesa: “Você só anda 30 metros e tem pessoas completamente diferentes na sua frente. São tão suaves. Até o visual é diferente”, disse.

Smolyaninov se tornou um crítico feroz do Kremlin e sua chamada “operação militar especial” na Ucrânia. Recentemente, ele gravou uma versão com letras alteradas de uma música da era soviética, chamada ‘Temnaya Noch’ (“Noite Escura”, em tradução literal). Sua versão condena os ataques russos a alvos civis no país vizinho.

“Veja, ocupante, como as maternidades estão sem energia. Como as crianças ficam nos abrigos. E como os livros são afogados. A noite russa chegou a escolas e hospitais”, diz a letra.

Em um outro verso, o ator compara Putin a Hitler: “um bunker, onde um Führer se esconde, e um pequeno cozinheiro careca, alimenta o Führer com uma colher”. O cozinheiro em questão é Evgeny Prigozhin, importante aliado de Putin e criador do Wagner Group, organização paramilitar que durante anos viveu cercada de mistério, mas que desde o início da guerra na Ucrânia passou a operar abertamente. Prigozhin é também conhecido como “chef de Putin”, em função dos muitos contratos que tem para fornecer refeições ao governo russo.

À época em que ‘9º Pelotão’ estourou nos cinemas da Rússia, Putin recebeu o elenco em sua residência nos arredores de Moscou – incluindo Smolyaninov. “O filme captura a alma, você mergulha nele. Retrata as pessoas que se encontraram em situações extremas em uma guerra e se mostraram dignos”, elogiou Putin em novembro de 2005.

Nos últimos dias, o Ministério da Justiça da Rússia acrescentou vários outros nomes à sua lista de agentes estrangeiros, rótulo destinado a opositores do governo que e serve para estigmatizar o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. Entre eles está o crítico musical Artemy Troitsky e vários jornalistas.

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