Rival de Putin preso na Rússia diz que rejeitaria eventual troca de prisioneiros com o Ocidente

Ilya Yashin foi condenado a mais de oito anos de prisão por se posicionar contra a guerra da Ucrânia e diz que cumprirá pena em seu país

Condenado a oito anos e meio de prisão por contestar a guerra da Ucrânia, o proeminente oposicionista russo Ilya Yashin afirmou em entrevista a uma emissora de seu país, publicada na quarta-feira (12), que não aceitaria uma eventual troca de prisioneiros com governos ocidentais caso recebesse tal oferta. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

“Fiquei na Rússia para ser uma voz russa contra a guerra e a ditadura. E, claro, é importante para mim compartilhar do destino do meu país e do meu povo. Acredito sinceramente que um político russo deve estar com a Rússia, como dizemos, tanto na alegria quanto na tristeza”, disse Yashin à Dozhd TV, com conteúdo parcialmente divulgado através do Telegram.

Yashin foi detido em junho de 2022 em um parque de Moscou e deveria ficar preso durante 15 dias por desacato. Ele afirma que estava sentado em um banco com um amigo quando policiais surgiram e exigiram que os acompanhasse, sem maiores explicações. As autoridades, por sua vez, alegam que o homem reagiu com ofensas e que segurou um dos agentes.

O oposicionista russo Ilya Yashin após ser preso na Rússia em 13 de julho (Foto: Facebook)

Em vez de libertá-lo após os 15 dias, a Justiça apertou o cerco contra Yashin, um dos últimos críticos notórios de Putin que permanecia em liberdade na Rússia. Foi então aberto o processo criminal contra ele, sobretudo em função do conteúdo geralmente veiculado através do canal do político no YouTube.

Na acusação, o promotor responsável pelo caso disse que Yashin ignorou os relatos da mídia local e de seus correspondentes de guerra e deu preferência a informações divulgadas por “Estados hostis”, citando “os Estados Unidos e seus satélites”, que “fornecem instrutores e armas à Ucrânia.” Ele pediu nove anos de prisão, e a corte estabeleceu, em dezembro de 2022, uma sentença condenatória de oito anos e meio.

O caso Navalny

Na entrevista desta semana, Yashin ressaltou a diferença entre a situação dele e a de Yulia Navalnaya, viúva do maior rival político de Putin, Alexei Navalny, que morreu em fevereiro deste ano. Enquanto Yashin faz questão de seguir na Rússia, mesmo preso, a mulher optou por ir embora junto da filha, vivendo atualmente no exílio.

Segundo Yashin, a missão de Yulia é “explicar ao mundo e aos líderes ocidentais que o povo russo e Putin não são os mesmos, que os nossos compatriotas são de fato reféns em nas mãos da junta do Kremlin.” Isso, na visão dele, justifica a preservação da liberdade da viúva de Navalny, mesmo que em outra nação.

Por que isso importa?

Na Rússia, protestar contra o governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Os protestos coletivos desapareceram das ruas a partir do momento em que a Justiça local passou a usar a pandemia de Covid-19 como pretexto para punir grandes manifestações, alegando que o acúmulo de pessoas feria as normas sanitárias. Assim, para driblar o veto, tornou-se comum ver manifestantes solitários erguendo cartazes com frases contra o governo.

Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, no dia 24 de fevereiro de 2022, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos. Uma lei do início de março de 2022, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das Forças Armadas”.

Dentro dessa severa legislação, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 22 mil). A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o Exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, eufemismo usado pelo governo para descrever a guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.

Desde o início da guerra, a ONG OVD-Info, que monitora a repressão na Rússia, reportou cerca de 20 mil detenções em protestos contra a guerra em todo o país. A enorme maioria dos casos, cerca de 15 mil, foi registrada no primeiro mês de guerra. Depois, houve um pico entre setembro e outubro de 2022, devido à mobilização parcial de reservistas imposta pelo governo.

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